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Fuvest 2024: 2ª fase posiciona vestibular da USP como humanista

Prova cobrou diversos temas da atualidade, sem deixar de lado seu caráter tradicional e exigente. Veja análise por disciplina

Por Luccas Diaz
Atualizado em 19 dez 2023, 19h07 - Publicado em 19 dez 2023, 19h06
imagem da fuvest
Vestibular da Fuvest é a principal porta de entrada para a Universidade de São Paulo (USP) (Fuvest/Freepik/Guia do Estudante)
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A segunda fase da Fuvest 2024 encerrou a temporada dos grandes vestibulares deste ano. Aplicada pela primeira vez em dezembro, a última etapa do processo seletivo da USP (Universidade de São Paulo) rendeu elogios dos professores ouvidos pelo GUIA DO ESTUDANTE: foi tradicional e clássica nos conteúdos cobrados, progressista nas temáticas e textos de apoio, e surpreendente na proposta de redação.

“A Fuvest parece ter se posicionado como um vestibular humanista e, por conseguinte, a USP como uma instituição mais humanista”, opina Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo.

Atualidades na prova

Os textos de apoio abordaram diversos temas atuais como:

  • Estrangeirismos na Língua Portuguesa;
  • O repatriamento do manto Tupinambá;
  • A dicionarização da palavra ‘travesti’;
  • A violência policial no país;
  • Os dados do Censo 2022;
  • O alargamento da faixa de areia em Balneário Camboriú (SC);
  • A Era do Antropoceno;
  • O físico Oppenheimer, que ganhou um filme biográfico este ano.

A segunda fase da Fuvest 2024 apresentou, de forma geral, dificuldade média de complexidade. Mas, por meio do tema da redação e das temáticas das perguntas, mostrou, mais uma vez, que é um vestibular seletivo. Para ser um uspiano, é preciso desenvolver, além dos conteúdos didáticos, uma visão crítica e contemporânea do mundo.

Veja a análise de cada disciplina separadamente.

Redação

O tema deste ano causou polêmica: Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão. A frase temática sozinha exigiu dos candidatos um exercício extra de interpretação. Diferentemente de outros anos, a banca não trouxe uma pergunta de “sim ou não”, como em “O mundo contemporâneo está fora da ordem?” ou “Devem existir limites para a arte?”.

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O que parece é que, desde a edição do ano de 2021 (“As diferentes faces do riso”), o vestibular vem diversificando suas propostas de redação, atingindo o ápice na Fuvest 2023 quando cobrou um tema que se aproximava muito mais dos cobrados no Enem, “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

Na ótica do coordenador e professor de Redação do Poliedro Curso de São Paulo, Arthur Medeiros, o tema desta edição veio com a cara dos cobrados pela Fundação Vunesp – a banca por trás da Unesp e do Provão Paulista.

+ Fuvest: veja todos os temas já cobrados na redação

“Esse tema pode ser um grande aprendizado: apesar de cada banca possuir seus direcionamentos mais comuns, os candidatos devem estar sempre preparados para outros formatos de proposta de redação”, afirma. “A banca é livre e pode fazer alterações em suas formas a qualquer momento”. O que só reforça a importância de se treinar ao longo do ano e não se prender a fórmulas vendidas como mágicas ou receitas instantâneas de sucesso.

Sobre o tema em si, um recado da própria banca. Ao tematizar o sacrifício do hábito reflexivo e do ócio criativo em nome da ultra produtividade, a Fuvest traz a problemática de ser multitarefa para a educação e mostra o quanto busca candidatos que saibam pensar e enxergar o mundo de maneira crítica.

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Para Medeiros, o tema engloba aspectos críticos da contemporaneidade – e que poderiam ser citados pelo estudante no texto. “Por exemplo, a desvalorização das ciências humanas em favor das carreiras mais técnicas, o preenchimento de todo o nosso tempo livre com atividades mediadas pela tecnologia, o alastramento assustador dos casos de síndrome de Burnout e outras patologias mentais relacionadas à produtividade, bem como o crescente consumo de drogas estimulantes”, afirma.

Língua Portuguesa

Não houve grandes surpresas na prova de Gramática. A edição teve o DNA da Fuvest e valorizou o candidato que se atentou à interpretação dos textos de apoio, assim como os significados das palavras relacionadas aos determinados contextos. “Isso ficou muito evidente, por exemplo, na questão em que havia o duplo sentido da palavra ‘humanidade'”, avalia Marcos Sagatio, professor de Gramática e Interpretação de Texto do Curso e Colégio Oficina do Estudante.

O que se nota na prova é a habilidade da banca de inserir os conteúdos clássicos de Gramática, como tempos verbais, variação linguística e polissemia, em discussões atuais – o que firma ainda mais o vestibular como uma prova atenta aos principais debates contemporâneos. Em certa questão, a dicionarização da palavra “travesti” foi pontuada, evidenciando a releitura que o termo obteve nos últimos anos, que valoriza o seu caráter político e de celebração.

+ Variantes linguísticas: o que são e como aparecem nos vestibulares

O estrangeirismo também esteve presente. Uma outra questão trazia uma manchete sobre a abertura do “rooftop” do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A notícia, na verdade, era inserida em um print de uma rede social, juntos de comentários de usuários, que questionavam: “pode ser terraço, laje ou cobertura? Estão falando anglicismo no Museu da Língua Portuguesa”.

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“A prova abordou ainda temas como desinformação, teorias conspiratórias, violência policial… Temáticas muito relevantes e que guiaram os textos básicos sem deixar de lado os estudos tradicionais de Língua Portuguesa”, opina Sérgio Paganim.

+ Professora lista 5 dicas para não se perder na hora de estudar atualidades

Literatura

Uma prova com dificuldade acima da média! As questões de Literatura deste ano exigiram do candidato muito mais do que a mera leitura das obras obrigatórias. Nesta segunda fase, caíram “Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, “Quincas Borba“, do Machado de Assis, “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles, e “Marília de Dirceu” de Tomás Antônio Gonzaga.

As questões exploraram, principalmente, relações intertextuais complexas, como entre o poema do Drummond e uma canção de Caetano Veloso, e entre uma lira de “Marília de Dirceu” e uma obra de arte. Diferentemente da primeira fase, foi cobrado do candidato uma leitura aprofundada e dinâmica das obras, solicitando a capacidade de relacioná-las com obras de outras searas.

+ Como interpretar as obras de arte nos vestibulares?

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Matemática

Uma prova de nível médio para difícil. A banca cobrou temas já clássicos do exame, como probabilidade, função de primeiro e segundo grau, exponenciais, geometria analítica e espacial. Mas deixou de fora assuntos que costumam aparecer: geometria plana, análise combinatória e sequências.

Destaque para a questão de número um, que pode ser considerada a mais difícil da prova de Matemática. A dificuldade estava não no conteúdo, mas no enunciado, apresentando ao candidato certa complexidade para entender o que exatamente estava sendo cobrado.

História

A prova de História foi avaliada por professores como bem elaborada, tradicional, e de nível médio de dificuldade. A predominância das questões foi em torno de História Geral; as sobre História do Brasil foram somente duas. Assuntos clássicos, que já são normalmente trabalhados em sala de aula foram a maioria, entre eles escravidão, Idade Média, Guerra do Vietnã e Proclamação da República.

Um destaque seria a presença de imagens que eram importantes para a resolução das questões. Outro seria a questão que foi considerada a mais exigente da prova. Nela, misturaram-se habilidades de História com Inglês ao relacionar a capa de um disco de um cantor nigeriano (em inglês) e o movimento de descolonização e independência da África.

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Geografia

Em Geogragia, o estudante encontrou também uma prova de nível médio para difícil. Houve somente uma questão de Geografia Geral, envolvendo o BRICS, grupo econômico que foi destaque ao longo do ano – o porquê explicamos neste texto. Chama atenção a presença dos dados do Censo Demográfico 2022, divulgado neste ano pelo IBGE, que embalou uma pergunta sobre povos tradicionais e outra sobre transição geográfica.

Um trio de questões sublinhou o caráter predatório da relação entre o homem e a natureza. Temas como a Era do Antropoceno, a exploração mineral de Nauru e o alargamento da faixa de areia em Camboriú (SC) foram citados como pano de fundo para as perguntas.

+ O que é a Era do Antropoceno – e por que alguns cientistas defendem que entramos nela

Física

Prova de nível médio para alto. Com conteúdos diretos e contextualização objetiva (mas bem construída). As questões apresentavam conteúdos ligados ao cotidiano e à Física Moderna. Exigiu do candidato leitura atenta, com entendimento aprofundado da disciplina e disposição para fazer as várias contas. Calorimetria, ondas estacionárias e primeira lei da termodinâmica foram alguns dos temas cobrados. Mecânica, surpreendentemente, ficou de fora.

Nas questões 5 e 6, as específicas para as carreiras de exatas, perguntas mais sofisticadas e trabalhosas, com direito à referência a Oppenheimer, e o fenômeno da aurora boreal.

+ Oppenheimer: conheça a história e as consequências do Projeto Manhattan

Química

A prova de Química na Fuvest 2024 apresentou uma ampla cobertura de conteúdos – com algumas questões, inclusive, cobrando mais de um assunto simultaneamente. A matemática foi uma grande aliada em algumas perguntas. Prova com dificuldade média para difícil, mas bem balanceada no que diz respeito à quantidade de teoria e cálculo. Valorizou o candidato com facilidade para interpretar textos, gráficos e tabelas. Isto é, com habilidade analítica.

Alguns professores apontam a ausência do “note e adote” na questão três, o que obrigou os candidatos a fazerem aproximações no cálculo. Tal característica a coroou como a questão mais difícil da prova. Destaque para Equilíbrio Químico, presente em mais de uma questão. Fizeram falta questões sobre Termoquímica, Eletroquímica e Química Geral. Ainda assim, uma prova típica da Fuvest.

+ Treine a leitura de gráficos e tabelas com questões do Enem

Biologia

Uma prova de nível médio e com duas avaliações possíveis. Para os candidatos que realizaram a prova de quatro questões foi uma prova muito bem distribuída, com uma pergunta sobre cada tema: ecologia, evolução, fisiologia humana e uma envolvendo zoologia, genética e biologia celular. Para quem fez a prova com seis questões, no entanto, a diversidade ficou mais restrita – com a adição de mais duas perguntas sobre Ecologia, totalizaram-se três sobre o mesmo tema, ou seja, metade da prova.

Nenhuma questão foi muito complexa, e vale como destaque a presença significativa de gráficos, tanto para análise quanto para a construção.

+ Ecologia: veja como o tema cai na prova

Colaboraram no texto: Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo; Arthur Medeiros, coordenador e professor de Redação do Poliedro Curso de São Paulo; Marcos Sagatio, professor de Gramática e Interpretação de Texto do Curso e Colégio Oficina do Estudante; Marcos César Formis, professor de Química do Curso e Colégio Oficina do Estudante; Mário Fernandes, professor de Matemática do Curso e Colégio Oficina do Estudante; Felipe Mello, professor de História do Curso e Colégio Oficina do Estudante; e André Bourg, professor de Biologia do Curso e Colégio Oficina do Estudante.

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