“Joguei futebol de cegos e senti na pele as dificuldades de ser um cadeirante em São Paulo” – PARTE 3
Na série GUIA no Trote, repórter vivencia, junto com calouros, a experiência do trote inclusivo da Unifesp
Atualizado em 9 de março, às 17h20
Em mais uma atividade do trote inclusivo,
estudantes andam de cadeira de rodas nos arredores da Unifesp de São Paulo
Créditos: José Luiz Guerra – Comunicação / Unifesp
Passeio de quatro rodas
Depois do jogo, era a nossa vez de nos passarmos por cadeirantes. Nos dividimos em duplas para dar uma volta no quarteirão de uma forma nova para nós, sentados em uma cadeira de rodas.
Minha dupla era a goiana Alana Calixto Carlos da Silva, mais uma estudante de Medicina. Alana foi a primeira a sentar na cadeira. Minha missão era ficar ao lado dela, ajudando no que precisasse.
E ela precisou bastante! Além da dificuldade de estar pela primeira vez andando sentada, a cadeira estava quebrada, com a roda girando em falso.
Na minha vez, cogitei trocar de cadeira, mas Alana me desafiou: “Você é jornalista, tem que vivenciar tudo”. Aceitei a provocação e acabei sentindo na pele as dificuldades de ser um cadeirante nas ruas de São Paulo. Era possível perceber cada mínimo buraco ou desnível da calçada, sem contar os olhares bravos dos pedestres que achavam que estávamos atrapalhando a passagem.
No fim do dia, o saldo foi positivo. Realmente foi possível perceber as dificuldades e desafios de ser um cego ou um cadeirante. E, de fato, o trote inclusivo serviu para nos sensibilizar e entender melhor as necessidades das pessoas portadores de necessidades especiais.
Calouros tiveram que tirar a roupa em trote da universidade Na segunda-feira, 28 de fevereiro, primeiro dia da recepção, os veteranos de Medicina preparam uma festa para os calouros, na quadra da instituição. “Tivemos uma confraternização. No meio da festa, nos separamos em uma roda de meninos e outra de meninas. As veteranas pediram para que fizéssemos a dança da chuva. Não nos forçavam a nada, fazia quem queria”, diz a estudante de Medicina Bruna Maria Bernardini Forte. De acordo com Bruna, as meninas ficaram do lado de fora da quadra, mas uma forte chuva fez com que elas entrassem. “Quando a chuva apertou, fomos para dentro. Os meninos ficaram do lado de fora e não vimos o que aconteceu”, comenta. Ao que parece, a violência começou aí. Separados das garotas, os meninos tiveram que tirar a roupa. “Eles não mandavam que a gente ficasse pelado, apenas pediam. Mas, se a pessoa não quisesse, rolava uma pressão, então todo mundo fazia”, conta um estudante que não quis se identificar. O garoto ainda disse que eles tiveram que entrar em uma pequena piscina com óleo e pedaços de porco. A “brincadeira” era pegar cada parte do animal da forma que conseguisse, mas, o melhor seria se fosse com a boca. Em nota, a Unifesp afirmou que repudia e condena qualquer tipo de recepção violenta e se mostrou ciente do ocorrido com os calouros de Medicina. De acordo com a universidade, após algumas denúncias sobre o trote, foi criada uma Comissão de Sindicância para apurar possíveis abusos sofridos pelos novos estudantes. Ainda segundo nota da instituição, caso confirmada a violência do trote, serão adotadas, de forma imediata, as medidas acadêmicas e disciplinares, legal e estatutariamente cabíveis, para a responsabilização dos envolvidos. |
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