O que é uma empresa júnior e quais as vantagens em participar
Estudantes contam como participar de uma empresa júnior pode ser uma experiência transformadora
A experiência do Ensino Superior não se limita às quatro paredes da sala de aula. Cabe ao aluno explorar as diversas possibilidades, que vão do esporte à pesquisa. Muitas iniciativas, inclusive, começam dentro de uma instituição de ensino, mas se expandem para diferentes setores da sociedade, como é o caso das empresas juniores (EJs). Apesar de nem todos conhecerem, o movimento de empreendedorismo universitário tem grande relevância no Brasil. Só no ano passado, todas as EJs brasileiras faturaram, juntas, 70 milhões de reais.
O país tem a maior quantidade de empresas juniores do mundo. Ao todo, são 1533 EJs federadas e mais de 25 mil universitários envolvidos, de acordo com dados da Confederação Brasileira de Empresas Juniores, a Brasil Júnior. A rede pública lidera com 146 universidades que possuem ao menos uma EJ, somando 1300 empresas juniores ao total.
O movimento começou na França em 1967, e a pioneira no Brasil – e na América Latina – foi a Empresa Júnior Fundação Getulio Vargas, em 1988. Um dos idealizadores, Rogério Cher, conta que a motivação para começar o movimento por aqui, na verdade, nasceu de um aborrecimento. Onde ele estudava não havia a opção de curso noturno e isso fazia com que eles ficassem com as piores opções de estágio. Uma empresa júnior foi a maneira que ele, aos 20 anos, encontrou para utilizar técnicas de organização empresarial e se desenvolver profissionalmente ainda durante a graduação.
Hoje, 34 anos depois, Cher – que é sócio e fundador da Devello, empresa de consultoria estratégica de desenvolvimento humano – observa que, no Brasil, as empresas estão muito distantes das universidades. O movimento, segundo ele, faz o papel importante de fazer essa ponte entre o acadêmico e o empresarial. “Agora, no mundo sênior, vejo que o estudante que participou de uma empresa júnior traz a capacidade de transgredir e desafiar o status quo do mundo dos negócios”, disse ao GUIA DO ESTUDANTE durante o ENEJ (Encontro Nacional de Empresas Juniores), que neste ano aconteceu em Maceió, Alagoas, e reuniu mais de cinco mil congressistas de todo o Brasil.
O que é uma empresa júnior, na prática?
Toda empresa júnior tem um CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e é regulamentada pela Lei 13.267, mais conhecida como Lei da Empresa Júnior, sancionada em 2016. “O Brasil é o único país do mundo dentre as confederações que tem uma lei própria que regulamenta o nosso trabalho e que estabelece a participação das universidades no movimento”, observa Beatriz Nascimento, 22 anos, presidente da Brasil Júnior.
Vale esclarecer que, na ótica jurídica, não trata-se de uma empresa propriamente dita, já que não tem como finalidade o ganho e distribuição de lucros, e sim, um propósito educacional. Ou seja, o objetivo central de uma empresa júnior – que sempre vai estar ligada a um ou mais cursos de uma instituição de ensino – é capacitar os universitários para o mercado de trabalho e fomentar o empreendedorismo entre os jovens.
Os projetos e serviços prestados pelas EJs são oferecidos para clientes reais, tanto pessoas físicas como outras empresas. Trocando em miúdos, isso significa, por exemplo, que uma empresa júnior de contabilidade pode oferecer serviços contábeis para pequenas empresas. Ou que uma EJ de publicidade pode ser contratada para pensar a campanha de lançamento de alguma nova marca.
Em alguns casos, as EJs ganham mais destaque que empresas há anos no mercado, conquistando clientes de peso. Foi o que aconteceu com a Fluxo Consultoria, empresa vinculada a todos os cursos da Escola Politécnica, da Escola de Química e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro. A empresa foi escolhida em um processo de licitação da Eletrobras, que buscava uma consultoria para avaliar a climatização do Centro de Treinamento de Mambucaba, Paraty (RJ).
Com trabalhos como esse, a Fluxo é a empresa júnior com maior faturamento do Brasil. Só no ano passado, a EJ carioca ganhou 3 milhões de reais. Todo o lucro é reinvestido em capacitações, treinamentos, cursos, marketing, equipamento, e outras melhorias necessárias ao funcionamento do negócio e do aperfeiçoamento dos membros. Essa é uma das regra de uma EJ: os estudantes não recebem um salário, trata-se de um trabalho voluntário em troca de conhecimento e experiência.
Os alunos contam com a supervisão de um professor da própria faculdade para instruí-los e lidar com burocracias e responsabilidades que vão além das competências dos universitários. Em uma empresa júnior de arquitetura, por exemplo, existem alguns serviços prestados que precisam de um termo técnico de um profissional já formado. O professor tutor, então, assina e se coloca como responsável pelo projeto.
As vantagens em participar de uma empresa júnior
A entrada de novos membros em uma empresa júnior acontece por meio de processo seletivo, assim como a seleção para eleger os cargos de direção. Os universitários são responsáveis por tocar todas as áreas da empresa, desde o RH até a parte técnica do negócio.
Beatriz Piancó, 21 anos, estudante de arquitetura e presidente da FEJEA (Federação de Empresas Juniores do Estado de Alagoas), diz que a experiência de passar por processos seletivos dentro da EJ fez com que ela ficasse mais confiante para fazer entrevistas de estágio. “Eu também acabei me tornando uma aluna muito mais aplicada, porque alguns projetos que participei exigiam conhecimentos que estavam além do meu ano da graduação, então precisava ir atrás por conta própria”, conta.
Eduardo Cavalcante, 24 anos, também defende que a participação no movimento empresarial júnior foi um complemento importante para a sua experiência no ensino superior. Junto com quatro amigos, ele fundou, em 2018, a Dome Consultoria, EJ de construção civil vinculada à Universidade do Estado do Amazonas. “Foi a época que eu mais aprendi. Pesquisei muito para desenvolver a estrutura de uma empresa do zero”, relembra.
Apesar de ser formado em engenharia civil, Eduardo se aventurou na área de comunicação: foi diretor de marketing na empresa júnior e depois ficou à frente de Relações Públicas na Brasil Júnior. Para ele, o que se leva de mais importante do movimento são as habilidades socioemocionais adquiridas. “Aprendi a liderar um time, delegar tarefas, além de desenvolver inteligência emocional e autonomia”, diz.
Antes de entrar para o movimento, a estudante de Química da Unesp de Araraquara, Júlia Pavan, 21 anos, nunca imaginou dar entrevistas ou palestrar em um evento com mais de 500 pessoas. “Eu não conseguia falar para 3 ou 4 pessoas sem ficar com vergonha”, conta. Atualmente, ela é presidente da FEJESP (Federação de Empresas Juniores do Estado de São Paulo). “Eu me comunico com representantes das empresas de São Paulo e com presidentes de outras federações do país, então a timidez teve que ficar de lado. Não tinha nem tempo para ela”, conta com bom humor.
As portas que se abrem
Quando pensamos em empreendedorismo, é comum que venham à mente cursos como administração, engenharia ou computação. Mas o movimento empresa júnior mostra que é possível empreender em qualquer área, da Medicina à Nutrição.
Calma, isso não quer dizer que estudantes de medicina pratiquem a profissão em empresas juniores! Mas eles podem, por exemplo, criar negócios para oferecer soluções de gestão e inovação para clínicas, hospitais e startups em saúde. É o caso da Medic Jr., empresa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, criada em 2017.
“Ajudamos os médicos com habilidades de negócios que eles não aprenderam durante a graduação. Ao mesmo tempo, adquirimos conhecimentos para aplicarmos no futuro, quando tivermos o nosso consultório”, afirma Mateus Toledo, 21 anos, presidente da Medic Jr.
O impacto no futuro e inserção no mercado de trabalho é mais uma vantagem apontada por quem decide se dedicar ao empreendedorismo universitário. Segundo uma pesquisa da consultoria iDados, com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2020, um brasileiro que concluiu a faculdade demora, em média, 16,8 meses para se recolocar no mercado de trabalho. Dados levantados pela Brasil Júnior mostraram que 52,98% dos pós-juniores que fizeram parte do movimento levaram até três meses para serem empregados após a saída da organização.
Em alguns casos, a empresa júnior também apresenta novos caminhos para o futuro, como aconteceu com Alexandre Krul e Heloise Papa, ambos com 25 anos e que saíram do movimento empresa júnior em 2020. Alexandre estudou Engenharia Mecânica, na Universidade Federal do Amazonas, mas descobriu, por meio da vivência de empresa júnior, uma enorme afinidade com tecnologia e gestão financeira. Atualmente, ele trabalha como product manager (gestão de produto) no mercado de investimentos.
Heloise, advogada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, também teve os rumos profissionais impactados pela experiência na EJ. Não seguiu a carreira de Direito, e passou a atuar no desenvolvimento de competência comportamentais, com foco em ambiente corporativo, em uma startup de educação.
“Talvez eu demoraria mais alguns anos ‘apanhando’ no mercado de trabalho para descobrir o que eu realmente queria. Com certeza, a multidisciplinaridade que uma empresa júnior proporciona me fez conhecer pessoas e competências que facilitaram muito esse processo”, conta Alexandre.
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