Neste domingo (6), candidatos realizaram a primeira fase da Unicamp 2023. O exame tratou de questões bastante atuais, como transfeminismo e armamento, e exigia que os candidatos estivessem ligados ao que está acontecendo no Brasil e no mundo, como já é de costume dessa banca. Em coletiva de imprensa, a professora Márcia Mendonça, coordenadora acadêmica da Comvest, defendeu que trabalhar com contemporaneidade é parte do currículo de ensino no país e que, por isso, temas atuais são incorporados ao vestibular da Unicamp.
Destacou ainda que a diversidade vai além das temáticas, e abarca também os gêneros textuais e formatos cobrados na prova, repleta de gráficos, tabelas e imagens.
Professores ouvidos pelo GUIA DO ESTUDANTE endossam os pontos levantados pela Comvest. Para Sérgio Paganim, diretor do curso Anglo, a prova da primeira fase da Unicamp foi muito bem contextualizada com o cenário global moderno, com uma grande diversidade de gêneros textuais, mas que ainda assim soube cobrar conteúdos clássicos do Ensino Médio.
“Tinham questões sobre os biomas brasileiros, áreas de mineração no país, movimentos de resistência, ditadura, bicentenário da Independência, funções e geometria plana. São questões clássicas do currículo de Ensino Médio que também apareceram na prova”, completa Sérgio.
Marcus Vinícius de Moraes, professor de História do curso Oficina do Estudante, ressalta que a Unicamp, mais uma vez, “mostrou que a sua prova não é apenas um vestibular. Trata-se de uma visão de mundo”. Segundo ele, “a instituição, que pensa em diversidade e enxerga o Brasil como múltiplo, nos apresentou uma avaliação igualmente plural.”
Na avaliação do professor, de um modo geral, a prova teve uma dificuldade mediana.
A prova de matemática ficou marcada por um nível de dificuldade maior, enquanto a de física exigiu mais interpretação dos candidatos.
Confira os comentários e análises da primeira fase da Unicamp por disciplina:
Português e literatura
Assim como em outras disciplinas, a prova de Português e Literatura exigia do candidato bastante interpretação, bem como uma visão crítica e criteriosa dos problemas colocados.
“O conteúdo passa pela Cracolândia, transfeminismo, a relação dos indivíduos com as imagens veiculadas na internet e jornalismo científico. A gramática propriamente não foi explorada, embora, em uma das questões, se faça referência a processos de formação de palavras”, descreve Reginaldo Leite, professor de português do Oficina do Estudante.
Em Literatura, as obras obrigatórias foram o destaque da prova: seis das dez obras cobradas pela Unicamp apareceram na primeira fase do vestibular 2023. Foram elas:
- Bons Dias, de Machado de Assis;
- Sobrevivendo no Inferno, de Racionais MCs;
- Niketche, de Paulina Chiziane;
- O Marinheiro, de Fernando Pessoa;
- Tarde, de Olavo Bilac;
- A Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.
Tratam-se de obras de gêneros variados – o que em alguma medida já era esperado, considerando a lista de livros obrigatórios da Unicamp.
Sobre a abordagem feita das obras, Sérgio Paganim, do Anglo, destaca a interdisciplinariedade com disciplinas como História ou mesmo Sociologia. “O interessante é que não se cobrou apenas o enredo das obras, mas uma associação entre o enredo e a sociedade brasileira. Então havia muito diálogo entre o trecho literário e textos que fazem uma reflexão sobre a formação social do Brasil. Esse ponto é bem importante porque mostra uma conexão entre Literatura e uma visão de mundo sobre a sociedade contemporânea que a literatura permite.” Este, segundo ele, é um aspecto clássico da Unicamp.
Inglês
A prova de inglês sintetizou a ideia defendida pela Comvest: foi marcada pela diversidade não só de temáticas, como também de gêneros textuais.
Ao todo, eram 8 questões com os seguintes formatos: postagem em mídia social; romance (novel); campanha social; política urbana e grafite; artigo científico; discurso e gráfico.
Em suma, foi uma prova que manteve a tradição de promover a diversidade textual com assuntos da atualidade.
Geografia
A prova de Geografia manteve-se no nível difícil, com questões clássicas envolvendo Amazônia e geomorfologia. “[A prova] trouxe assuntos contemporâneos, como Etiópia, data center, refugiados e biopolítica, relacionando esta última com filosofia”, destaca Paganim.
No entanto, algumas questões envolvendo agronegócio, meio ambiente e reservas extrativistas na Amazônia tiveram nível mais fácil. “No geral, os temas cobrados eram mais modernos, incluindo legislação ambiental, de forma que o aluno precisava estar atento não apenas ao conteúdo, mas também a tudo que o envolve”, afirma Ademar Celedônio, Diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação.
História
Questões sobre a representação europeia da América, Palmares, a invenção dos Direitos Humanos, a greve de São Paulo de 1917, mulheres da periferia e a Ditadura Militar marcaram a prova de História da Unicamp.
“Como destaque, podemos sublinhar a questão de número 60 (Prova Q) que mencionava os usos do passado, estabelecendo importantes relações entre as representações imagéticas da Primeira Missa, da Independência do Brasil e, sobretudo, a produção de uma memória histórica.” ressalta Marcus, professor de História do Oficina do Estudante.
Para Sérgio Paganim, a prova propunha um questionamento do passado a partir de várias problemáticas do presente. “A diversidade de textos-base é muito evidente: leitura de textos historiográficos, letra de músicas, comparação de imagens”, destaca o diretor.
Também chamou a atenção o engajamento da prova, que teve duas questões sobre ditadura militar, uma no Brasil e outra na América Latina.
A avaliação geral dos professores é que foi uma prova de História mais difícil que a de anos anteriores, mas ainda de nível médio.
Biologia
Prova muito elaborada, complexa e abrangente, segundo Marcelo Perrenoud, professor de Biologia do Oficina do Estudante. Os principais temas abordados se relacionavam à ecologia – com referência direta ao fluxo de energia –, aos programas de saúde, e a questões sobre biotecnologia, com muitas referências às atuais pesquisas e trabalhos científicos.
Apesar de não haver uma questão específica sobre fisiologia humana, uma pergunta interdisciplinar correlacionava hormônios sexuais com conceitos físicos.
“De maneira geral foi uma prova muito bem construída que exigiu um bom conhecimento dos alunos, além de muita atenção e capacidade de interpretação”, resume Perrenoud.
A prova também permaneceu no nível difícil para Sérgio Paganim. “Apenas uma questão cobrou matéria de forma direta. Todas as demais exigiam fazer uma relação entre conceitos e os contextos oferecidos.”
Matemática
Assuntos como função trigonométrica, P.A., geometria espacial, porcentagem, análise gráfica, função inversa, sistemas lineares, progressão geométrica, análise combinatória, função quadrática e trigonometria básica foram assuntos da primeira fase do vestibular.
Segundo a professora de Matemática do Oficina do Estudante, Cláudia Rangel, foi uma prova clássica e sem grandes novidades, mas diferenciou-se de outras disciplinas pela ausência de questões interdisciplinares.
A avaliação de Sérgio, do Anglo, é parecida: foi uma prova bastante técnica, pouco contextualizada e razoavelmente sofisticada.
O candidato que esperava questões fáceis, no sentido de cobrarem respostas óbvias, não as encontrou. “Podemos dizer que, em matemática, não houve questões ‘de graça’, que fossem mais fáceis para os alunos”, afirma Ademar Celedônio, do SAS.
Física
A prova de Física cobrou os temas mais simples de cada área da matéria. Quase todas as questões exigiram aplicações diretas das fórmulas, com uma predominância nos tópicos de mecânica (cinco das oito questões).
Diferente de anos anteriores não foram exploradas análises gráficas e/ou dimensionais. Temas clássicos como movimento circular e 1ª lei de Ohm também estiveram presentes no exame. Esse ano não foram cobrados conceitos de ondulatória, tema bastante recorrente na Unicamp. A questão sobre refração também foi considerada uma novidade.
“Em geral, foi uma prova muito bem elaborada, equilibrada, abordando várias áreas da Física (mecânica, termologia, eletricidade e óptica). Muito adequada para um processo seletivo em primeira fase”, relata Marcelo Clóvis, professor de Física do Oficina do Estudante.
Química
Sérgio Paganim destaca a abordagem clássica – para os padrões da Unicamp – da prova de Química deste ano. “O conteúdo aqui fica em segundo plano. Foi uma prova de leitura, de interpretação de gráfico. Isto é, a química era um pretexto para um problema interpretativo principalmente relacionado ao contexto ambiental.”
Uma prova de nível médio para difícil, com questões abordando a química verde, economia atômica, problemas ambientais, poluição e efeito estufa. Também apareceram na prova conteúdos como estequiometria, termoquímica, cinética química e óxido-redução.
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