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O tema da redação da Fuvest 2022 neste domingo (16) foi: “As diferentes faces do riso”. Segundo a banca, o tema foi composto por cinco textos de apoio. “Os candidatos devem explorar os aspectos distintos do riso, que podem ser entendidos como característica universal do ser humano, crítica política, enquadramento social e, inclusive, como forma de resistência, dentre outras possíveis abordagens que sejam pertinentes ao tema.”
A diretora-executiva da Fuvest, Belimira Bueno, disse em entrevista a JovemPan no início da manhã deste domingo que “a redação exigiria criatividade”. A Fuvest é conhecida por propor temas mais abstratos quando comparada a outros vestibulares. Detalhe importante: zerar a nota de redação não elimina o candidato, uma vez que a Fuvest considera a nota de toda a prova, que inclui Língua Portuguesa e Literatura.
O professor Sérgio Paganim, diretor pedagógico do Curso Anglo, considerou o tema abrangente e só aparentemente desconectado da realidade. “Trata-se de um tema para o qual a realidade vai servir como base para a discussão. O candidato poderia apresentar o riso como uma forma de um indivíduo se colocar diante do mundo”, sintetiza.
Segundo Vanessa Bottasso, professora de redação da Oficina do Estudante, “o tema faz refletir sobre a vida e o prazer de vivê-la em meio às crises contemporâneas”. A professora destaca que a prova seguiu o padrão das edições anteriores ao oferecer uma frase temática clara, sustentada por uma coletânea reflexiva e instigadora. Isso auxiliou o candidato na formulação de ideias e representações do riso, sobretudo no papel sociocultural que ele desempenha.
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Comentários do tema e coletânea
Sérgio Paganim, do Anglo, diz que a coletânea permitiu aos candidatos terem uma visão ampla sobre o assunto, com diferentes perspectivas a respeito do papel social, político, polissêmico e inquietante do riso. Para ele, é possível destacar três aspectos da proposta. O primeiro deles está relacionado ao cotidiano. “Pode parecer que não é diretamente ligado à realidade. Mas os fatos servirão para sustentar a argumentação”, explica. Nesse ponto, o candidato precisava mobilizar os conhecimentos sobre o mundo concreto para desenvolver o texto.
O segundo aspecto é que, apesar de ser uma coletânea menos abrangente em relação à prova de 2021, a banca consagra um modelo pluralista de análise da proposta. Por último, há uma valorização das habilidades de leitura dos textos e também permite a exploração de outras visões de mundo que o candidato tenha a respeito do riso, avalia Paganim.
Entre as possibilidade de argumentação que os candidatos poderiam seguir, o professor cita quatro exemplos.
O filme ‘O Nome da Rosa’, baseado na obra homônima de Umberto Eco. A trama se passa em um mosteiro beneditino do século 14 onde alguns consideravam a comédia um gênero perigoso. “Rir de tudo poderia fazer todos rirem de Deus e o riso, neste caso, poderia se mostrar uma fonte de liberdade perigosa”. O Guia do Estudante publicou uma análise sobre o filme O Nome da Rosa, em 2018, em que destacava a questão do riso. No texto, a repórter Julia Di Spagna relata que a biblioteca do mosteiro guardava obras não aceitas pela Igreja e uma delas era um suposto livro de Aristóteles que abordava a comédia e o riso e cuja leitura levaria os homens à desobediência a Deus.
Relacionado a questões sociais, o coordenador do Curso Anglo cita a frase em latim “Ridendo castigat mores” ou “Rindo, moralizam-se os costumes“, para exemplificar como o riso transforma costumes. “O Auto da Barca do Inferno é um clássico exemplo de crítica social por meio do riso. A obra de Gil Vicente sintetiza uma visão de mundo que, segundo a qual, a melhor forma de mudar uma realidade é enfatizar o seu absurdo – e rir dela”, comenta.
Uma referência nacional sobre o assunto é a frase “Rir é um ato de resistência”, do ator e comediante Paulo Gustavo, que faleceu vítima de covid-19 em 2021. Quem optasse por essa citação seguiria um caminho mais politizado, diz Paganim. “O candidato poderia desenvolver essa veia política da resistência ao caos e à tristeza. Ao falar, por exemplo, sobre a relação da ordem social injusta que se vive, o riso seria um antídoto a essa situação”.
Além disso, Paganim relembra o ataque à sede da produtora Porta dos Fundos, em 2019, em que uma bomba foi jogado no local e, com consequências ainda mais devastadoras, o atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, em 2015, em Paris, após a publicação de caricaturas do profeta Maomé. São exemplos de como humoristas e cartunistas podem ser perseguidos ao tocarem em temas sensíveis.
Riso paradoxal
Nas redes sociais, muitos candidatos disseram que usaram o filme Coringa como repertório. O personagem de Joaquim Phoenix no papel-título mostrava um sujeito com sérias questões mentais e cuja risada transmitia um sentimento que era mais da ordem do inquietante do que do cômico (no Enem de 2020, cujo tema foi “O Estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, uma aluna tirou nota mil ao falar sobre Coringa).
Na mesma linha do riso paradoxal do Coringa, na redação de hoje alguns alunos disseram ter mencionado a obra Campo Geral, de Guimarães Rosa, em que o personagem ri após ser surrado pelo pai. Na comunidade Fuvest 2021/2022, o aluno Paulo Ricardo contou que desenvolveu no seu texto o conceito de materialismo dialético, “aí brotou Gil Vicente, Gregório de Matos e um filme independente que havia assistido há pouco”. Uma outra aluna citou “Não olhe para cima” e argumentou o fato de que os jornalistas no filme trataram uma notícia como o impacto de um meteoro com a Terra com humor e sarcasmo, o que poderia ter efeitos alienantes na opinião pública.
Segundo dia
Na segunda-feira (17) acontece o segundo dia de prova e serão 12 questões dissertativas de igual valor, que poderão versar de duas até quatro disciplinas, de acordo com a carreira escolhida. Se forem duas disciplinas, serão seis questões de cada matéria. Se forem três disciplinas, serão quatro questões para cada matéria. Se forem quatro disciplinas, haverá três questões para cada matéria.
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