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Série de TV inspirada em clássicos da literatura vira livro

Autor retrata a vida dos estudantes usando leituras cobradas em vestibular como pano de fundo

Por por LUIZA SAHD
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h47 - Publicado em 23 mar 2011, 16h42

O casal mais popular do colégio termina o namoro. Boatos sobre traição ganham força e ninguém chega a confirmar ou negar. Uma aula sobre Dom Casmurro provoca um bate-boca que nos leva a pensar como seria a vida de Capitu, personagem feminina mais intrigante de Machado de Assis, se ela fosse uma adolescente nos dias de hoje. Assim como acontece em Dom Casmurro, cabe ao leitor de “Tudo o Que É Sólido Pode Derreter” decidir se a mocinha é culpada ou inocente – ou, ainda, se isso é tão importante assim.

– Saiba mais sobre Dom Casmurro

Série de TV inspirada em clássicos da literatura vira livro“Tudo o Que É Sólido Pode Derreter” fez sucesso na TV Cultura por tratar de temas cotidianos dos jovens usando os clássicos da literatura como inspiração. As histórias da protagonista – Thereza, de 15 anos – sempre esbarraram em dilemas vividos pelos grandes personagens literários, como o existencialista Hamlet ou preguiçoso Macunaíma.

– Auto da Barca do Inferno – Leia trechos comentados da peça de Gil Vicente

Os capítulos da série foram adaptados e deram origem ao livro homônimo. Em entrevista ao Guia do Estudante, o escritor e roteirista Rafael Gomes conta que pretende discutir temas relevantes e aproximar os jovens da leitura usando uma abordagem mais leve do que a escolhida por Camões.

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GUIA DO ESTUDANTE – Qual foi o critério para a seleção das obras que entrariam no enredo da série? Você levou mais em conta o conteúdo exigido no ensino médio ou preferiu selecionar livros que te marcaram como leitor?
Rafael Gomes –
Foi uma mistura entre autores que fossem relevantes no currículo escolar, livros que marcaram nossas leituras – as minhas e as dos outros roteiristas – e, principalmente, obras com enredo que se prestassem bem ao que íamos fazer: uma apropriação da obra dentro de um outro contexto dramatúrgico.

GUIA DO ESTUDANTE – “Tudo o Que É Sólido Pode Derreter” trata de autores que escreveram obras consideradas “espinhosas” pelos adolescentes, como Camões, Alphonsus de Guimaraens, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias e José de Alencar. Como foi sua experiência pessoal com esses autores e qual é o segredo para tornar as estórias mais conectadas à realidade dos jovens?
Rafael Gomes –
Alguns me cativaram logo de cara, como foi o caso de Alphonsus de Guimaraens e José de Alencar. Outros não há como negar que são difíceis. Não é brincadeira ler Os Lusíadas! Essa relação com a literatura pode acontecer de uma forma muito instintiva… Às vezes gostarmos do texto como quem morde um pedaço de bolo de chocolate; às vezes a aproximação é lenta. Seja como for, não se pode obrigar alguém a gostar de uma obra de arte e nem censurar a pessoa caso não goste. Tentamos possibilitar descobertas e fazer com que não haja repúdio a nenhuma obra por antecipação. Tentar criar esses atalhos é nosso objetivo desde a série, e que expandimos agora com o livro.

GUIA DO ESTUDANTE – Quais dos doze livros usados para os capítulos principais você considera mais atemporais? Rafael Gomes – Pensando em moral coletiva, acho impressionante como o Auto da Barca do Inferno ressoa bem nesses tempos em que as divisões entre Bem e Mal parecem cada vez mais borradas. Já sob o ponto de vista da investigação interior, acho que o mundo vai acabar e ainda estaremos lendo Clarice Lispector. Em termos de observação humana, sagacidade e linguagem artística, é simplesmente embasbacante o quanto Machado de Assis é moderno!

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GUIA DO ESTUDANTE – Qual dos episódios teve mais repercussão do público?
Rafael Gomes –
Acho que o episódio “Ismália”, até por ser bastante radical em alguns aspectos (é triste, fala sobre suicídio, costura referências eruditas) e, portanto, incomum dentro do que se espera ou se acostumou esperar como dramaturgia juvenil. Sempre foi um episódio muito comentado.

GUIA DO ESTUDANTE – Se você pudesse mudar ou acrescentar algo ao livro, o que seria?
Rafael Gomes –
O livro eu acabei de escrever, então espero não sentir tão cedo aquela sensação de que poderia ter feito algo diferente… Já em relação à série, assim como com qualquer trabalho, cada revisão traz uma vontade diferente de mudar pequenas coisas. Mas aquilo estratifica um momento, aquele trabalho feito daquela maneira tem sua beleza, apesar de eventuais frustrações – que, nesse caso, devo dizer, são muito poucas.

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