Enem: Estudante que tirou 1000 duas vezes na redação dá dicas
Raphael, que quer cursar Medicina, passou por treino intensivo de estudos durante três anos
Qual é o segredo para tirar nota 1000 na redação do Enem? Essa fórmula o estudante Raphael de Souza, do Rio de Janeiro, com certeza domina: ele foi um dos 104 candidatos a tirar nota máxima no exame de 2015. Mas não para por aí: ele também esteve entre os 250 alunos que gabaritaram o texto em 2014!
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Foto: Arquivo pessoal
O aluno nota mil, que acabou de ser aprovado em Medicina na Federal do Rio de Janeiro, pelo Sisu – o curso mais concorrido do programa -, diz que sempre teve facilidade na redação, mas sabe que só isso não basta. Ele passou por um treino intensivo de estudos para arrebatar as duas ‘notonas’ nos três anos em que vem prestando vestibular. “Fazia uma redação por semana e sempre ia na monitoria do cursinho, onde podia ver o que tinha acertado e o que estava errando nos textos”, diz.
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Agora, o estudante de 19 anos vê chegando mais perto o sonho de cursar Medicina. “Estou tentando a UFF [Universidade Federal Fluminense] e a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], no Sisu, e até agora estou dentro da nota de corte”, diz. Ele conta que, dos três anos em que vem prestando – dois deles no cursinho – este foi o ano em que o restante das notas cresceu o suficiente para acompanhar o desempenho na redação.
Segundo ele, há algumas estratégias que o fizeram chegar tão longe. “Preparação e muito treino são fundamentais”, diz. Além disso, ele procurou estudar mais disciplinas de Humanas, como filosofia e sociologia, para sair do senso comum. “Não me preocupei tanto com atualidades. Minha estratégia foi procurar entender teorias novas e temas de sociologia, que me ajudaram muito a fazer alguma intertextualidade e a oferecer uma ideia diferente da coletânea para a banca corretora”, diz Raphael.
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Ao que tudo indica, a tática do estudante deu certo, e muito! Ficou curioso para saber como o Raphael consegue mandar tão bem na redação? Confira algumas de suas dicas e prepare-se:
O passo a passo da preparação |
Treine muito. Faça uma redação por semana, no mínimo (se possível, mais). Vá às aulas e monitorias da sua escola ou cursinho e leve para correção os textos que fizer. Se não tiver professores por perto, peça para algum amigo ou parente ler o seu texto de forma crítica |
Estude teorias novas, faça conexões entre disciplinas e treine a intertextualidade nas redações. Cite autores e leituras que fez. Deixe o corretor perceber que você tem conhecimento |
Tenha noção geral de atualidades. Esteja preparado para qualquer tema que apareça na prova e saiba articulá-lo com o que aprendeu durante o ano |
A estratégia para o texto
“Gosto de usar a técnica do ‘texto circuito’. Começo pelo título, usando uma frase curta que estimule a vontade de ler. Depois, vou interligando o texto: após a introdução, puxo para o desenvolvimento. E conecto a conclusão com a introdução, formando um circuito.”
- Introdução: “Sempre começo fazendo algum paralelo do tema com história, com um acontecimento que tenha a ver com o assunto. Assim, eu já insiro o diferencial de cara do texto, indo além da coletânea.”
- Desenvolvimento: “Nos argumentos, coloco bastante teoria e intertextualidade. Aqui entram as partes de filosofia e sociologia. Ao longo das aulas, durante o ano, fui fazendo uma lista de frases legais que eu poderia usar nos contextos de redação, e carregava comigo para ir decorando. Também é uma boa ideia porque pode deixar o texto com mais impacto para o leitor.”
- Conclusão: “Essa é a parte em que precisa ter mais cuidado, tem que elaborar bem. Na conclusão, sempre retomo a ideia inicial, que completa o circuito. Para fazer a proposta de intervenção, obrigatória, é muito importante especificar bem quem vai fazer o quê: a qual ministério, o governo, deve se aliar, em que deve investir etc. E é bom evitar os clichês, para não ficar muito batido.”
A redação vencedora
Leia abaixo o texto de Raphael que recebeu nota 1000 no Enem 2015, sob o tema “A persistência da violência contra a mulher no Brasil”.
Equilíbrio Aristotélico
Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de maneira mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do reforço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa linha de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, funciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.
Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas áreas que mais necessitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será gradativamente minimizado no país.