São Paulo – Contrariando todas as expectativas, o empresário republicano Donald Trump venceu e é o novo presidente dos Estados Unidos. Até as vésperas da eleição, pesquisas de intenção de voto mostravam a democrata Hillary Clinton em apertada vantagem. Esse cenário, no entanto, mudou.
Após meses de uma disputa acirrada, o magnata assegurou na manhã do dia 9 de novembro os 270 delegados necessários para ser eleito pelo Colégio Eleitoral. A informação foi divulgada em torno das 05h40 (horário de Brasília) pela agência Associated Press e o resultado foi logo repercutido pelos maiores jornais do país.
Momentos após a vitória, o empresário falou aos eleitores em um discurso no qual disse ter recebido uma ligação de sua rival Hillary e se dirigiu ao povo americano em tom de união e conciliação.
“Me dirijo a vocês para pedir ajuda, para que juntos unifiquemos o país”, disse o magnata, “nossa campanha foi um movimento incrível”. “Cada americano terá a oportunidade de realizar o seu potencial total, homens e mulheres não serão esquecidos”, pontuou. Foi ovacionado.
Agora, Donald John Trump, o outsider que se vangloria de ter financiado a própria campanha, é o 45º presidente do país. O sucessor de Barack Obama assume o cargo em 20 de janeiro, no chamado “Dia da Inauguração”.
Disputa acirrada
O caminho de Trump à presidência não foi fácil e a solidez da sua candidatura foi questionada diversas vezes, especialmente por nomes de peso de seu partido, que vive uma crise interna sem precedentes.
Durante as primárias, conseguiu assegurar os votos de 13 milhões de pessoas e deixou para trás candidatos com mais experiência e vivência política como o senador do Texas, Ted Cruz, e o senador da Flórida, Marco Rubio.
Consolidado como o candidato oficial após a convenção nacional em julho, Trump seguiu levantando a bandeira anti-imigratória, acusando a China de ser desleal no mercado externo, aplaudindo o Brexit e desferindo golpes contra sua rival Hillary e Barack Obama.
A contagem dos votos não foi menos emocionante. Durante a noite do dia 8 e madrugada do dia 9, o bilionário trilhou o caminho à Casa Branca vencendo aos poucos nos chamados “swing states”, aqueles onde qualquer resultado era possível, como Flórida e Ohio.
Apesar dos pesares, triunfou.
O que esperar
Donald Trump não é exatamente conhecido pela consistência das suas declarações e propostas. Portanto, enquanto o seu gabinete oficial não for anunciado, previsões sobre o panorama da sua presidência são difíceis de serem feitas. Em algumas áreas o comportamento do empresário ao longo da campanha traz algumas pistas.
Ele chamou a atenção do mundo ao falar diversas vezes na construção de um muro para separar o México dos Estados Unidos e prometeu banir os muçulmanos do país. Em relação ao aborto, por exemplo, chegou a mudar de ideia por três vezes em apenas três dias, como notou o jornal americano The Washington Post.
Para John Hudak, pesquisador do Brookings Institution e diretor do Centro de Políticas Públicas da entidade, no que diz respeito ao cenário da política externa, as propostas de Trump ainda são uma porta aberta. “Passamos por dois anos de campanha e até agora não temos um entendimento sólido de como será a sua política externa”, disse a EXAME.com, “e isso é perturbador”.
No campo econômico, os planos do empresário estão baseados em quatro pilares: impostos, comércio, energia e regulação, como explicou Peter Navarro, professor da Universidade de Irvine, na Califórnia, e que fez parte do time econômico de Trump durante a campanha.
Quer reduzir os impostos, realizar uma reforma regulatória, além de ser a favor da emissão de vouchers escolares para que os pais escolham as escolas e contra o chamado Obamacare, medida que ampliou o acesso à saúde por meio do controle dos preços dos planos.
Como será o seu desempenho nessa área é outra incógnita. Antes da eleição, um grupo de 370 economistas, entre eles vencedores do Nobel de Economia,classificou a ascensão do empresário ao posto de presidente como “perigo único ao funcionamento das instituições democráticas e à prosperidade do país”.
Gosto pelo poder
Nascido em Nova York em 1946 no bairro do Queens, Trump é filho do americano Frederik C. Trump, um empresário que atuava no ramo imobiliário e era de origem alemã, e da escocesa Mary MacLeod.
Formado em administração pela Wharton School of Finance, da Universidade da Pensilvânia, entrou nos negócios da família no início dos anos 70, e logo começou a tocar seus próprios projetos em Manhattan.
Em 1980, com o lançamento do hotel Grand Hyatt, começou a construir sua fortuna. Logo viria seu empreendimento mais icônico, a Trump Tower, em 1983. Os anos 90 não foram fáceis para o empresário, que enfrentou dificuldades em seus empreendimentos e declarou falência algumas vezes.
De acordo com Michael D’Antonio, autor da biografia “The Truth About Trump” (em tradução livre “A Verdade Sobre Trump”) em entrevista à rede de notícias CNN, a personalidade de Trump foi muito influenciada por seu pai, Fred. Morto em 1998, deixou para o filho uma fortuna avaliada em 250 milhões de dólares, além do gosto pela política e o poder.
Segundo o autor, o pai do empresário era um homem ambicioso que prezava pelas amizades estratégicas. “Ele doou muito dinheiro para muitos candidatos”, explicou, “e acho que demonstrou para Donald como se trabalha com esses relacionamentos, como se joga com essas pessoas”.
Embora se venda como um empresário que não tem nada a ver com a política, essa não foi a primeira tentativa de Trump de se lançar à presidência. Ele o fez em 1999, quando se candidatou ao pleito pelo Partido Reformista.
Divorciado por duas vezes, está desde 2005 com a modelo eslovena Melania Trump, que acaba de se tornar a segunda estrangeira a ocupar o lugar de primeira dama dos Estados Unidos. O empresário tem cinco filhos (Donald Junior, Ivanka, Eric, Tiffany e Barron) e é avô de sete crianças.