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O que daria para fazer com a fortuna dos bilionários?

Entenda por que bilionários são diferentes de ricos comuns - e como o problema vai muito além de visitas ao Titanic

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 21 jun 2023, 20h20 - Publicado em 21 jun 2023, 20h09

O homem mais rico do mundo, Bernard Arnault, acumula uma fortuna estimada em 211 bilhões de dólares – mais de um trilhão de reais, na cotação atual. O dinheiro vem principalmente da gigante do mercado de luxo, LVMH, grupo que reúne Louis Vuitton, Christian Dior, entre outras marcas. O segundo lugar no ranking de bilionários fica com Elon Musk, mas esse você já deve conhecer bem: o dono da Tesla e, mais recentemente, do Twitter, tem o patrimônio avaliado em 180 bilhões de dólares. Quem completa o pódio é Jeff Bezos, dono da Amazon e dos 114 bilhões de dólares que a empresa lhe gerou.

Colocando desta forma, os nomes e números dos mais ricos do mundo, divulgados todos os anos pela Forbes USA, parecem perder um pouco a dimensão. Mas imaginar situações do mundo real, em que o dinheiro não é só uma cifra na tela de um computador, ajuda a entender o que significa estes patrimônios de bilhões.

É como se a fortuna de Musk, segundo homem mais rico do mundo, fosse capaz de comprar mais de 6,2 mil Rolls-Royce Boat Tail, atualmente o carro mais caro do mundo. Pudesse pagar, aproximadamente, 572 mil vezes o prêmio de Juliette Freire no BBB 21 – o que mostra que ser milionário é bem diferente de ser bilionário. Ou então o patrimônio de Musk poderia custear a compra de, no mínimo, 2,4 milhões de casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

Pois é, a quantia é tão grande que parece humanamente impossível uma única pessoa torrar todo este dinheiro. Se o dono do Twitter resolvesse gastar um dólar por segundo, por exemplo, demoraria 5.580 anos para que todo seu patrimônio fosse liquidado.

O exercício de transpor as fortunas bilionárias para em itens mais ou menos caros, mais ou menos distantes da realidade da maior parte da população, pode até parecer brincadeira, mas revela uma realidade um tanto assombrosa. O dinheiro acumulado pelos bilionários – que nos últimos anos se tornaram ainda mais numerosos – poderia resolver boa parte dos problemas no mundo.

Os ricos ainda mais ricos, e os pobres mais pobres

Segundo o relatório Lucrando com a Dor, produzido pela Oxfam Brasil, os últimos três anos, marcados pela pandemia de Covid-19, fizeram mais do que escancarar o abismo que separa ricos e pobres. Também o tornaram mais profundo. No documento, divulgado em maio de 2022, a organização que atua no combate às desigualdades mostrou como os mais ricos do mundo ganharam ainda mais dinheiro quando a Covid-19 começou a se espalhar pelo globo – muitos deles lucrando, inclusive, com o aumento do preço de alimentos ou com a venda de medicamentos comercializados a preço de ouro.

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Em 2020, ano em que a pandemia começou, existiam 2.095 pessoas no mundo com patrimônio avaliado em mais de um bilhão de dólares. Em 2023, após um período em que a maior parte da população empobreceu, o número de bilionários subiu para 2.640. De acordo com a Oxfam, os 10 homens mais ricos do mundo possuíam em 2022 mais riqueza do que 40% das pessoas mais pobres do mundo somadas – ou 3,1 bilhões de pessoas.

No Brasil, a concentração de renda, que já é um problema secular, só não agravou-se ainda mais por conta dos programas de distribuição de renda, como o auxílio emergencial. Mas na prática, a desigualdade social segue implacável: a fome atinge, hoje, mais de 33 milhões de brasileiros.

Mesmo que a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) acuse a menor concentração de renda já alcançada no país, na prática, os 1% que mais ganham no país (R$ 17.447 por mês) ainda têm um rendimento 32,5 vezes maior do que os 50% que menos ganham (R$ 537). E essa comparação, vale lembrar, esta muito distante da realidade dos bilionários.

Jorge Paulo Lemann, um dos homens mais ricos do país, acumula uma fortuna de 15,8 bilhões de dólares. O número pode ser mais tímido que o de Elon Musk, mas gastando o mesmo dólar por minuto, o brasileiro ainda demoraria quase 490 anos para acabar com todo o dinheiro que acumulou até aqui.

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Da onde vem a fortuna dos bilionários – e por que não é tão simples assim se tornar um

Jacob e David Safra, João e Pedro Moreira Salles, Jayme Garfinkel, José Roberto Marinho, Ana Lucia de Mattos Barretto Villela… o que estes e alguns outros bilionários brasileiros têm em comum é que o patrimônio que os alçou à lista de mais ricos do país não foi construído exatamente por eles. Eles são herdeiros de famílias de banqueiros, empresários da mídia e de outros setores de destaque. Muitos deles até deram continuidade aos negócios da família – mas receberam, digamos, um empurrãozinho para se tornarem tão ricos.

O Brasil também conta com alguns bilionários considerados “self-made man” – termo para se referir aos que constroem o sucesso por suas próprias mãos – como Marcel Herrmann Telles, um dos controladores da empresa de cervejas Anheuser-Busch InBev e acionista da rede que controla o Burguer King, e Jorge Paulo Lemman, que tem ações nas mesmas empresas que Telles. Mas mesmo estes não vieram “do nada”, como se diz popularmente.

Filho de suíços que imigraram para o Brasil, Lemman, por exemplo, estudou durante o Ensino Básico na Escola Americana do Rio de Janeiro, uma das mais exclusivas e prestigiadas na época. Depois disso, foi cursar economia na Universidade de Harvard – o que lhe conferiu bagagem e um belo histórico para o caminho que viria a trilhar dali em diante.

É claro que na lista da Forbes também figuram brasileiros mais jovens, que construíram suas fortunas há pouco tempo empreendendo em negócios digitais – e altamente lucrativos – como criptomoedas, fintechs e aplicativos de delivery.

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O difícil mesmo, para não dizer uma missão impossível, é se tornar bilionário trabalhando e juntando o salário de cada mês: segundo o relatório da Oxfam, uma pessoa comum que está entre os 50% mais pobres do mundo demoraria 112 anos para ter o que um integrante dos 1% mais ricos recebe em um ano.

Quem ganha mais, paga mais

Lembra do exercício de transpor o patrimônio dos bilionários em itens “mais simples”? No relatório Lucrando com a Dor, a Oxfam Brasil resolveu fazer o mesmo em relação ao contexto pandêmico, mas foi mais generosa com Musk e Bezos: imaginou o que poderia ter sido feito – e quantas vidas poderiam ter sido salvas – se o lucro excedente, ou seja, além do previsto, dos 10 mais ricos do mundo tivesse sido taxado por um imposto extraordinário, criado por tempo limitado e para mitigar os efeitos da crise. O resultado seria esse:

Um imposto único de 99% sobre os lucros excedentes obtidos pelos 10 homens mais ricos do mundo durante a pandemia de Covid-19 sozinho poderia pagar:

• pela produção de vacinas suficientes para todo o mundo;
• pelo preenchimento de lacunas de financiamento em educação, saúde universal e proteção social;
• pela ajuda a combater a violência de gênero em mais de 80 países.

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A pandemia, a falta de vacinas e o colapso no sistema de saúde podem ter ficado no passado, mas os problemas associados à pobreza e desigualdade no mundo permanecem.

Para lidar com estas e outras distorções sociais, a Oxfam – assim como uma porção de outros economistas – sugere a taxação do patrimônio dos mais ricos. Isso significa que, na prática, quem tem mais dinheiro e mais bens pagaria mais impostos. O dinheiro recolhido seria direcionado para políticas públicas na área de saúde, educação, e outras que atendem toda a população.

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