Quando os europeus chegaram ao território no qual, futuramente, haveria o Brasil, havia aqui um processo de disputa territorial entre povos indígenas, como os tupiniquins e tupinambás. Sem conhecer o território, os caminhos nas matas e mesmo quais alimentos comer, os europeus tiveram de buscar auxílio de grupos indígenas, ao mesmo tempo em que impunham a sua presença gradativa no território. Nesse contato de diferentes culturas, o choque e os conflitos foram a tônica.
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Os hábitos cotidianos e costumes dos indígenas – morais, familiares, sexuais, alimentares e religiosos – surpreenderam e até chocaram os europeus, incapazes de entender a cultura daqueles povos desconhecidos. Duas histórias em quadrinhos que abordam este tema são uma ótima maneira de obter uma ideia da dimensão desses choques.
Hans Staden – Um Aventureiro no Novo Mundo é uma adaptação para quadrinhos de Duas Viagens ao Brasil. Trata-se do livro escrito pelo próprio Hans Staden, viajante e mercenário alemão que naufragou no litoral paulista em 1550, e publicou sua aventura em 1557, na Alemanha.
Nomeado comandante do forte português de Bertioga (SP), em 1553, Staden foi aprisionado por um grupo tupinambá (aliada aos franceses), mantido refém por quase um ano, período no qual sucessivos acontecimentos evitaram que fosse morto. Seu relato detalha costumes indígenas, principalmente o ritual de canibalismo. A HQ é impressa em preto e branco sobre papel creme, com traços de grande identidade visual.
Outra HQ, Os Brasileiros, traz histórias de ficção em cores e em preto e branco, feitas pelo historiador, antropólogo e quadrinista paulistano André Toral. São sete histórias que se estendem do início da colonização até os dias atuais. As narrativas mostram as relações entre indígenas e não indígenas. Suas histórias ilustram como a condição de ser “brasileiro” mudou ao longo da história. No início da colonização, não se podia falar de Brasil (só de América Portuguesa), nem de brasileiro como uma identidade coletiva.
As histórias de Toral retratam o tremendo conflito cultural aberto com a chegada dos portugueses, mostram a presença indígena como parte integrante da formação populacional e cultural do país e chegam a problemas da atualidade entre os indígenas. O autor desenha quadros com perspectivas cinematográficas – como planos gerais, closes e recortes – que tornam a leitura agradável e dinâmica.