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Conheça Gaokao, o único vestibular do mundo com mais candidatos que o Enem

O maior vestibular do mundo recebe anualmente mais de 10 milhões de candidatos. Na última edição, quebrou o seu próprio recorde: 13,4 milhões de inscritos

Por Luccas Diaz
2 jul 2024, 15h00
Estudantes caminham em direção à prova
Estudantes se preparam para edição do Gaokao  (Wikimedia Commons/Reprodução)
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Na edição que teve o seu maior número de candidatos, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) registrou precisamente 8.721.946 inscritos. O ano era 2014 e, por mais que a quantidade de participantes no dia da prova tenha sido menor – assim como acontece em todos os anos -, 6.193.565, a edição é considerada a maior na história do exame. As inscrições impressionam quando comparadas ao número de matriculados no Ensino Médio daquele ano: 8,3 milhões, segundo o Censo Escolar 2014. Os números são espantosos, mas, acredite, há uma prova ainda maior, que impede o Enem de ocupar o posto de maior vestibular do mundo. Estamos falando do Gaokao.

Em sua mais recente edição, o vestibular chinês quebrou o recorde com 13,4 milhões de inscritos – mais do que o dobro do atual Enem 2024. O número ultrapassa em meio milhão a edição anterior do Gaokao, quando 12,9 milhões de estudantes e inscreveram para a prova.

Também chamado de Exame Nacional de Admissão ao Ensino Superior, a prova funciona de forma semelhante ao Enem, e é a principal porta de entrada para o ensino superior na China. Na mídia local, é frequentemente anunciada como a “prova mais difícil do mundo”, dado o número astronômico de candidatos e o alto nível de competitividade e pressão.

O GUIA DO ESTUDANTE mergulha no mundo do Gaokao para mostrar as características, estruturas e objetivo do exame que tira o posto do Enem de maior vestibular de todos.

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O que é o Gaokao

O Gaokao (高考) é um exame nacional aplicado anualmente a estudantes que estão no terceiro ano do Ensino Médio, antes de ingressar no ensino superior. A prova é administrada pelo Ministério da Educação chinês e aplicada em todas as províncias da nação. Assim como o Enem, é dividida em dois dias, mas diferentemente do exame brasileiro, acontece de maneira consecutiva, isto é, durante dois dias seguidos – usualmente, em 7 e 8 de junho.

O exame aborda todo o conteúdo aprendido durante a educação do candidato: são mais de 12 anos de estudos condensados em uma única prova. A estrutura é composta por uma parte igual a todos os candidatos, outra que varia conforme a escolha do curso de cada um, e uma redação.

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A etapa comum aborda questões de gramática e literatura chinesa, matemática e uma língua estrangeira (na maior parte dos casos, inglês, mas é possível escolher entre japonês, alemão, francês, russo e espanhol). Já a parte que varia pode ser tanto com questões de humanidades (História, Ciências Políticas e Geografia) quanto de ciências da natureza (Física, Química e Biologia). É semelhante ao que vemos na segunda fase dos vestibulares paulistas, como Fuvest e Unicamp.

O número de questões varia dependendo da província e da composição de prova do estudante, mas fica geralmente entre 100 e 150 questões de múltipla escolha. Todas elaboradas para testar os candidatos não somente em seus conhecimentos, mas também em suas capacidades de pensar criticamente, resolver problemas e desempenhar bem sob pressão – características valorizadas pelo mercado de trabalho local. Cada questão tem um valor definido, e a pontuação final varia até 750 pontos. Quanto mais perto de 750, melhor.

Geralmente, as disciplinas de gramática e literatura chinesa, matemática e língua estrangeira valem 150 pontos cada; já as de humanidades ou ciências, 100. A nota da redação é embutida na parte de gramática e literatura, podendo valer até 60 dos 150 pontos. Nunca nenhum estudante atingiu a nota máxima, 750/750, o mais perto disso aconteceu em 2019, quando o candidato Yang Chenyu pontuou 730 pontos.

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Para que serve o exame

Multidão em frente a escola, alguns seguram buquês de flores
Candidatos são felicitados pelos familiares após fazer o primeiro dia do Gaokao (Wikimedia Commons/Reprodução)

O Gaokao, assim como o Enem no Brasil, é a principal porta de entrada para o ensino superior na China. Usualmente, ao se inscreveram, os estudantes preenchem uma lista com as graduações que têm interesse de ingressar. No entanto, é uma lista preliminar, ainda não oficial. A lista que vale mesmo é preenchida após a divulgação das notas na prova, permitindo ao estudante adotar a melhor estratégia para garantir uma vaga. Caso tenha um desempenho abaixo ou acima do esperado, pode alterar as universidades que havia colocado antes.

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As universidades, então, recebem as notas dos inscritos e traçam uma nota de corte que peneira a entrada dos estudantes. A nota é calculada a partir de uma série de fatores, principalmente a média e a distribuição das notas dos interessados, a quantidade de vagas disponibilizadas e o número de candidatos inscritos para cada modalidade. Após a divulgação das notas de corte, os aprovados são convocados, e a lista pode ter ainda outras chamadas. É um processo bem semelhante ao que ocorre por aqui, com o Sisu

Uma nota entre 330 e 370 é, na maioria dos casos, o suficiente para garantir o ingresso em uma boa faculdade. Para as melhores, no entanto, é preciso mirar mais alto: as notas ficam acima de 500. Um candidato que tira a partir de 650 é considerado excepcional e, quanto mais perto de 750, mais provável é de ganhar um “passe livre” para escolher onde deseja estudar.

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Na China, há milhares de instituições de ensino superior. Mas, vale lembrar, estamos falando de um país que abriga impressionantes 1,4 bilhão de habitantes. As relações candidato-vaga nos cursos mais concorridos das melhores universidades, como a Universidade de Pequim e a Universidade Tsinghua, costumam ser altíssimas, chegando até mesmo a ter 50 mil alunos disputando a mesma vaga.

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Ainda assim, de maneira semelhante ao que ocorre no Enem, o Gaokao cumpre a sua função: estima-se que cerca de 70% a 80% dos candidatos que prestam a prova garantem uma vaga no ensino superior. Aqueles que não conseguem podem fazer o exame quantas vezes quiserem – há histórias de candidatos que chegaram a prestar mais de dez vezes até passar. No entanto, em algumas províncias, a prática é limitada e os estudantes têm apenas uma chance no exame. Cruel, não é?

Polêmica

Livros didáticos expostos em loja
Assim como no Brasil, é comum encontrar nas livrarias livros que compilam questões do exame (Wikimedia Commons/Reprodução)

A semana do Gaokao é uma das mais caóticas do calendário chinês. Há ruas fechadas, drones nos céus, e um intenso sistema de fiscalização. Empresas e fábricas são instruídas a não fazerem barulhos altos e até mesmo as buzinas nas ruas são proibidas. São realizadas revistas à procura de possíveis aparelhos eletrônicos que possam transmitir respostas, antes e durante o exame.

Busca de Cursos

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Os candidatos, assim como no Enem, devem chegar com antecedência ao local da prova. Por lá, felizmente, o “show dos atrasados” não é tão comum: os pais e familiares costumar chegar cedo com os estudantes, e ficam na porta torcendo e rezando pelos filhos.

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A pressão familiar, inclusive, é um dos pontos que mais chama atenção na vida de um estudante que se prepara para o Gaokao. As expectativas da família se traduzem em regimes rígidos de ensino e longas sessões de estudos diárias. Em 2017, uma escola na província de Anhui foi denunciada por cobrar de seus estudantes uma rotina excruciante de 16 horas de estudos. Outro candidato, em entrevista ao The New York Times, afirmou que se juntasse uma sequência com todas as páginas de simulados que prestou para a prova poderia dar a volta em todo o planeta.

O clima de competitividade e a visão, nada saudável, das rotinas de estudo levam a índices assustadores de depressão, síndrome de burnout, e até mesmo suicídio entre os jovens que se preparam para a prova. Um cenário que, infelizmente, se repete depois da graduação. A China vive um momento de crise entre jovens que se formaram na faculdade, mas não conseguem encontrar um emprego. Em 2023, a taxa de desemprego para esta categoria estava em 15% – no Brasil, o valor é de 3,5%, segundo o IBGE.

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