Theodore “Teddy” Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos entre 1901 e 1909. Seu espírito competitivo acabou desestabilizando a sua continuação na política após a derrota presidencial em 1912, quando tentou voltar à Casa Branca, mas perdeu o cargo para o democrata Woodrow Wilson. Roosevelt, que já curtia uma expedição exótica – ele participou de um safári de quase um ano pela África, em 1909 – decidiu que era hora de encarar mais uma aventura. Como esse mundo é pequeno, veio parar no Brasil.
Ainda hoje temos a lembrança dessa visita marcada no país, mais especificamente na Bacia Amazônica. “Roosevelt” virou nome de um rio que nasce em Rondônia, anteriormente chamado de “rio das Dúvidas”, porque não se conhecia muito bem o seu curso. Ok, mas como um ex-presidente dos EUA veio parar no meio da floresta Amazônica?
O convite partiu de Lauro Müller, ministro das Relações Exteriores do governo Campos Salles. Ele chamou Roosevelt para participar de uma expedição pela Amazônia após a derrota nas urnas norte-americanas. O ex-presidente ficou extremamente animado com a ideia e aceitou o convite – segundo declarou à época, era a “última chance de ser novamente um garoto”.
Prontamente, Roosevelt pediu para a sua equipe organizar o roteiro. Na época, o Marechal Cândido Rondon, que já explorava a região da Bacia Amazônica há mais de 20 anos, convidou o ex-presidente para participar de sua expedição para mapear o rio das Dúvidas. Roosevelt aceitou e levou seu filho Kermit e mais uma equipe com cerca de 20 pesquisadores para também investigarem cientificamente a flora e a fauna da região. Rondon e Roosevelt, os dois líderes da aventura pela mata amazônica, só se comunicavam em francês, única língua em comum que os dois dominavam (meio precariamente, mas dava pro gasto).
Os desafios encontrados durante a expedição foram incontáveis, envolvendo mortes, disputas por comida, conflitos com índios canibais, doenças e até desidratação, como conta essa reportagem. Quando a viagem pela Amazônia completou um mês, Roosevelt já tinha perdido 30 quilos. Como se não bastasse, ao ajudar a recolocar sua canoa nas águas do rio das Dúvidas, o ex-presidente acabou ferindo uma das pernas numa pedra. O médico da equipe já não conseguia mais dar conta dos doentes e o jeito foi carregar o ferido em uma maca improvisada. De tão debilitado, ele já não podia mais caminhar. Essa parte parece coisa de filme… Sabe quando a história chega num momento crítico e o mocinho ferido resolve desistir para não atrapalhar mais e deixar os outros continuarem? Então, foi mais ou menos isso que aconteceu. Roosevelt queria ficar para trás para morrer sozinho – como um bom herói -, mas óbvio que ninguém aceitou isso.
A viagem terminou em abril de 1914, depois de quase dois meses e 1.500 quilômetros de navegação, na foz do rio das Dúvidas, no conhecido rio Madeira. Desse modo, a expedição finalmente atingia seu objetivo (hoje a extensão do rio termina antes de chegar ao Madeira, no rio Aripuanã). Roosevelt ainda visitou as capitais Manaus e Belém antes de voltar aos EUA. Mas a história não terminaria aí! Para a sua surpresa e azar, chegou em casa com malária. Em carta escrita a um amigo, falando sobre sua saúde, disse que a selva havia “roubado dez anos” de sua vida. Morreu cinco anos depois da viagem, em 6 de janeiro de 1919, aos 60 anos.
Depois de todo o esforço, em homenagem ao americano, Rondon sugeriu mudar o nome do rio das Dúvidas para Theodore Roosevelt. A sugestão foi acatada pelas autoridades brasileiras. Hoje o rio é mais conhecido pelos moradores locais apenas como rio Teodoro. Bem mais prático e menos pomposo de falar, né?
Para saber mais, algumas dicas:
– Confira o documentário produzido pela expedição com imagens originais da época (parte 1 e parte 2)
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