A filósofa, educadora e ativista Angela Davis afirmou em entrevista coletiva que concedeu essa semana, durante sua visita ao Brasil, que sempre preferiu trabalhar nos bastidores, mas foi “lançada para frente” por um acidente histórico, que a fez alvo das instituições repressivas racistas dos Estados Unidos. Davis se refere aos anos em que lutou contra a segregação racial nos Estados Unidos – institucionalmente implantada quase 100 anos antes, a partir dos anos 1860, enquanto corria a Guerra Civil americana.
Angela Davis tinha vinte anos, em 1965, quando surgiu a seita Ku Klux Klan, um grupo racista que perseguia, torturava e matava negros. Na contra-corrente, Davis e tantos outros ativistas pelos direitos civis dos afro americanos, como Rosa Parks, Martin Luther King e Malcolm X organizavam-se também em grupos de resistências, dos pacifistas aos mais revolucionários.
Com seus discursos combativos, sua presença no meio acadêmico e punho sempre cerrado, Angela Davis se tornou um dos símbolos mundiais na luta pela igualdade – e também uma das ativistas mais perseguidas pelo Estado. Chegou a integrar a lista dos dez criminosos mais procurados do país e passou anos presa injustamente, após considerarem que ela estava envolvida em um assassinato. Hoje, uma das bandeiras de Davis ainda é a reforma do sistema penitenciário.
Apresentamos abaixo três livros de Angela Davis para quem quer entender não só a luta da ativista, mas a história recente pela igualdade racial nas palavras de uma das protagonistas deste movimento.
Mulheres, raça e classe
Primeiro livro de Angela Davis lançado no Brasil, Mulheres, raça e classe é o pilar do que defende a autora: a visão interseccional de todas essas bandeiras. Em um dos capítulos do livro, a autora destaca: “Claro que classe é importante. É preciso compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a classe. Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como a raça é vivida”. É neste livro que Davis apresenta também o debate sobre encarceramento e traz suas propostas sobre abolicionismo penal – justificando por que não enxerga o punitivismo como saída para o combate da criminalidade e violência.
A liberdade é uma luta constante
Lançado em 2018, A liberdade é uma luta constante traz um compilado de entrevistas, artigos e discursos de Angela Davis que circularam entre 2013 e 2015. Desta vez com foco em questões mais pontuais (mas ainda relacionadas a outras estruturais), Angela parte da segregação racial nos EUA e do apartheid sul-africano para trazer à tona outras lutas por liberdade atuais, como a questão do encarceramento negro e os conflitos na Palestina.
Uma autobiografia
Motivo da vinda de Angela Davis ao Brasil nesta semana, sua autobiografia acaba de ser lançada em português pela editora Boitempo. Nos Estados Unidos, o livro foi publicado em 1974. Ao longo de 400 páginas, a Angela Davis de 28 anos relata sua trajetória até aquele momento da vida, culminando nos dias de cárcere quando é presa injustamente. Considerando que Davis foi uma figura central neste período da história dos EUA, conhecer sua trajetória é enxergar de dentro a luta por direitos civis da população negra americana.
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