Vamos combinar: há uma grande distinção alimentar entre um ovo e um chocolate. Os dois alimentos são presentes o ano todo nos pratos ao redor do mundo, mas é somente durante um período do ano que eles se cruzam e mesclam. Combinar as duas coisas é uma ideia, no mínimo, peculiar, mas tornou-se tão comum que sequer paramos para pensar em seu significado. É claro que estamos falando da Páscoa e de seus famosos ovos de chocolate. Já se perguntou por que comemos o doce durante o feriado?
Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE traz a resposta para essa curiosidade – e, de quebra, te ensina um pouco mais sobre a influência das culturas europeias durante os séculos 19 e 20.
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Feriado pagão incorporado pelo Cristianismo
Como explicamos neste outro texto, a origem da Páscoa remonta aos tempos anteriores ao cristianismo. Ainda que hoje seja associada à figura de Jesus Cristo, a data é ainda mais antiga. A festa era uma celebração para a chegada da primavera, em nome de comemorar o fim do inverno (no Hemisfério Norte; verão, no Sul) e o renascimento da natureza, com as colheitas florescendo novamente.
Por esse motivo, os ovos eram um símbolo associado ao período, especialmente por representarem fertilidade e renovação – o início da vida após um período de dificuldades. Em algumas culturas, o coelho, ainda que nada tenha a ver com os ovos, também foi associado à celebração, uma vez que é um dos mamíferos que se reproduzem com mais rapidez e facilidade.
Com a chegada – e predominância – do cristianismo, essas celebrações foram incorporadas ao período que comemora a ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus. Definiu-se, então, que a data seria anualmente comemorada, sempre no domingo seguinte à primeira Lua Cheia do início da primavera/outono. Esse, inclusive, é o motivo que explica porque o feriado cai em diferentes datas todos os anos.
Ainda que, para o cristianismo, a figura dos ovos (muitas vezes, com as cascas decoradas) e dos coelhos não tenha sido incorporada ao feriado religioso, o teor lúdico das duas figuras garantiram a sua resistência na cultura popular. Surgiram até mesmo lendas que juntaram as duas, como a que conta que um coelho traz doces e ovos coloridos para as crianças na manhã de Páscoa.
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Introdução do ovo de chocolate
Se até este momento a explicação para os ovos da Páscoa estava cheia de elementos culturais e folclóricos, o porquê da introdução do chocolate será um pouco menos lúdica – e mais capitalista. Ao longo da História, o cacau, principal matéria-prima por trás do chocolate, sempre foi um alimento prestigiado e associado a momentos sagrados ou de celebração. No Império Asteca, era consumido em formato de bebida, tendo as suas propriedades medicinais associadas a momentos cerimoniais e religiosos. Os grãos chegaram a ser moeda de troca para bens e serviços.
No século 16, quando os europeus chegaram na América e se depararam com esses costumes, não demorou para que incluíssem na exploração das colônias o comércio de cacau para o velho continente. A bebida indígena era considerada amarga demais, mas em pouco tempo, os espanhóis já passaram a misturar açúcar para deixá-la mais doce e alinhada aos paladares europeus. A demanda pelo produto se tornou crescente, e logo virou uma febre entre as monarquias e as camadas mais nobres da sociedade.
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Nos séculos seguintes, a produção e comercialização só evoluiu. A adição do leite foi uma das mais importantes etapas para se chegar ao formato que conhecemos hoje. Nessa jornada, alguns países ficaram famosos por contribuir para a popularização do alimento, como Alemanha, Bélgica e Suíça. No século 19, as indústrias desses países foram pioneiras a refinar a produção de chocolate, com máquinas que introduziam novas técnicas de moagem, prensa, temperagem e conchagem. Esta última, inclusive, foi criada por Rodolphe Lindt, o fundador da marca de chocolates que existe até hoje.
A evolução das máquinas permitiu que a produção fosse barateada e, consequentemente, popularizada para as camadas além da monarquia e da nobreza. Assim, na segunda metade do século 19, com os preceitos do capitalismo já reinando sobre o mercado, os proprietários das fábricas viram na Páscoa uma oportunidade de transformar um dos seus símbolos mais famosos em chocolate. O alimento, afinal, fora sempre associado a momentos de felicidade e celebração, e a tecnologia das máquinas já permitia a modelação e a personalização do chocolate.
Nascia, assim, na década de 1870, os chocolates em formato de ovo, que mais tarde ficaram conhecidos mundialmente como ovos de Páscoa.
Importado para o Brasil
A importação do costume para o Brasil não tem grandes mistérios. Assim como os Estados Unidos é para os dias de hoje, a Europa era a grande lançadora de tendências no século 19 e 20. A máxima valia ainda mais se tratando de países colonizados por europeus, uma vez que já tinham enraizados em sua cultura alguns costumes e hábitos do Velho Continente. O Brasil, colonizado por Portugal, era um desses.
O costume de presentear ovos de chocolate chegou por aqui entre o fim do século 19 e o início do século 20. No entanto, era restrito somente às camadas mais altas da sociedade, visto que o produto não era fabricado no país e tinha que ser importado. Os altos custos de logística, somados ao próprio preço do produto, faziam com que somente a elite tivesse acesso à iguaria.
A partir das décadas seguintes, com o desenvolvimento da indústria nacional de chocolates, os ovos passaram a ser comercializados entre o público geral. Foi durante a década de 20 que marcas nacionais como Lacta, Kopenhagen e Garoto nasceram por aqui. A abundância de cacau nas plantações brasileiras incentivou a chegada de grandes nomes estrangeiros, como a suíça Nestlé, em 1959.
Em 1940, o primeiro ovo de Páscoa brasileiro foi lançado pela Lacta, embrulhado em papel celofane e vendido em lojas especializadas e supermercados.
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