Se você já parou para olhar a origem de palavras do português brasileiro, deve ter percebido que muitas são adaptadas do francês. Matinê, abajur, menu, sutiã, elegante, dublê e por aí vai. Mas por que este idioma, de uma cultura tão diferente da nossa, tem tanta influência na língua que falamos cotidianamente? Para dar essa resposta, o GUIA DO ESTUDANTE decidiu buscar um estudioso sobre a história das línguas portuguesa e francesa, e suas variações e mudanças dentro da história destes dois países.
Durante sua dissertação de mestrado, o pesquisador Lucas Braga Scaramussa, mestre em Letras pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), identificou como a França contribuiu para a construção do conjunto de palavras, ou seja, o léxico, da língua portuguesa brasileira. E a conclusão é que apesar de ambas virem do latim, essa não é a resposta para o intercâmbio entre os idiomas. Entenda abaixo.
Língua viva
Cada língua é formada e evolui de maneira diferente entre si, mesmo tendo nascido da mesma origem. No caso do português e francês, o latim. O desenvolvimento de um idioma depende de seus falantes, das regiões de origem, percursos histórico-sociais, entre outros. Apesar de existirem estrangeirismos utilizados no dia a dia, nem toda palavra de origem estrangeira incorporada à fala se enquadra nessa denominação.
Isso acontece porque as línguas estão em constante mutação e são um elemento cultural de um povo. É a partir dela que essa nação se comunica, compartilha suas crenças e constrói sua história, logo, ela acompanha as mudanças que acontecem na sociedade. “Quando estudamos o léxico, podemos levantar traços sobre a história de um povo e também conhecer o momento social em que aquele grupo de palavras foi utilizado”, explica o pesquisador.
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Francomania da elite brasileira
A França se tornou o ideal progressista de sociedade após a Revolução Francesa. O período de auge do país, denominado Belle Époque, aconteceu no intervalo entre a Guerra Franco-Prussiana e a Primeira Guerra Mundial, onde o país viveu o crescimento científico, técnico e tecnológico. Esta idealização fez com quem outros países passassem a incorporar os traços culturais franceses, resultado em uma espécie de francomania. Por aqui, o “vício” em parecer francês recaiu principalmente sobre a elite brasileira.
Algumas palavras que vieram do francês e foram adotadas no Brasil são godê, evasê, chique, ateliê, carnê, bistrô, restaurante, silhueta, lilás. Expressões completas também foram adaptadas como “mal do século” e “jogos de espírito”. Porém, não foi apenas nós que adotamos as palavras do país europeu – o caminho contrário também aconteceu!
Em sua pesquisa, ao checar o dicionário etimológico Trésor de la Langue Française informatisé (TLFi), Scaramussa identificou algumas palavras do tupi foram incorporadas no francês, como “cajou” (caju), “manioc” (mandioca) e “tatou” (tatu). É possível que a troca tenha acontecido depois do contato entre franceses e indígenas no século 16.
“Toda comunidade linguística está suscetível ao fenômeno dos empréstimos, pois tal processo acompanha as evoluções e as modificações sociais.”, conclui o pesquisador.
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