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‘Quiet quitting’ ao ‘quiet tok’: a relação da geração Z com o trabalho

Em alta nas redes sociais, esses fenômenos mundiais reivindicam equilíbrio entre vida profissional e pessoal

Por Patrícia Giuffrida
21 abr 2024, 19h00

Tudo começou com o “quiet quitting”, fenômeno mundial do mercado de trabalho que tem como tradução literal “desistência silenciosa” ou “demissão silenciosa”. Mas calma! A ideia não é gerar uma demissão em massa no planeta. Os profissionais que aderiram a essa tendência nos últimos anos – em geral mais jovens, da chamada geração Z –  se limitam às tarefas estritamente necessárias dentro de seu escopo de trabalho, evitando longas jornadas e sobrecarga. O objetivo, reivindicam, é buscar equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. 

Na esteira do “quiet quitting” vieram o “quiet ambition”, que é a recusa de cargos de gestão, e até o “quiet tok”, uma chuva de vídeos de demissão publicados nas redes sociais como desabafo.

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O contraste dessas novas tendências com modos de trabalho mais tradicionais gera ruído – tanto que os GenZ acabam levando má fama, com pesquisas indicando maior indisposição a contratá-losAfinal, o que são essas novas tendências de trabalho? São realmente prejudiciais no mercado, ou vieram para ficar e nem sempre são encaradas com maus olhos pelos recrutadores? 

O GUIA DO ESTUDANTE conversou com duas profissionais de recursos humanos e carreira para entender.

Como surgiram essas tendências?

Esse movimento mundial ganhou força durante a pandemia da Covid-19, especialmente nas gerações mais novas, como a Z. O termo viralizou nas redes sociais, principalmente no TikTok. Os jovens começaram a rever seus valores e repensar suas prioridades durante e após a crise sanitária mundial, valorizando cada vez mais a qualidade de vida.

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“A geração Z é mais desapegada do ‘possuir’, valorizando muito mais a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar, do que estar em um contexto corporativo que exige mais comprometimento, que é a realidade de quem ocupa posições mais seniores dentro das empresas”, explica Patricia Suzuki, Diretora de Gente & Gestão da Catho.

Segundo a especialista, a percepção mais comum nessa geração é que assumir responsabilidades de liderança e gestão de pessoas, por exemplo, requer mais horas de trabalho e mais estresse, e que os ganhos financeiros decorrentes dessa dedicação não compensam, valorizando muito mais o equilíbrio entre os distintos papeis da vida. 

Nesse caso, fazer uma carreira dentro de uma empresa e almejar cargos superiores já não são mais relevantes. É o que se chama também de “quiet ambition” (ambição silenciosa).

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Propósito é mais valorizado do que salários altos

Além da valorização da qualidade de vida em detrimento à carreira profissional, a geração z está focada em seus propósitos de vida ao procurar um emprego. “Percebemos que, atualmente, os jovens buscam nas empresas uma conexão com o propósito muito mais forte, onde avaliam tanto aspectos culturais, como da própria missão e visão de futuro da empresa”, afirma Suzuki, completando que “esse também é um movimento percebido por uma geração que se importa muito mais com o sentido do que faz e em seus impactos sociais do que em gerações passadas”.

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Pontos positivos e negativos dos “quiet” no mercado de trabalho

O ponto mais positivo dessas tendências é a construção de carreiras mais equilibradas, com uma divisão mais justa entre a vida profissional com a pessoal, mantendo um foco maior em sua saúde e qualidade de vida.

Mas toda tendência sempre traz um lado negativo. Suzuki alerta para não cair em uma “desaceleração da carreira”, gerando falta de motivação e engajamento, e diminuição da produtividade. Fazer só o básico pedido pela empresa faz com que o profissional não se desenvolva e não evolua. Desafios ajudam no processo de desenvolvimento de habilidades e competências.  

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Além da busca por um equilíbrio entre a carreira e a vida pessoal, é importante também ter um equilíbrio dentro da jornada profissional. Ou seja, não só se limitar ao básico, mas também evitar a sobrecarga. Será um caminho possível?

Suzuki também faz um alerta para quem optou pelo “quiet quitting” por se sentir insatisfeito no emprego. “Trabalhe seu protagonismo frente à empresa, traga à tona seus pontos de insatisfação. Seja transparente e comunique seus descontentamentos. Essa é uma saída para que haja uma possível solução”.

Cuidado com a exposição

Outra tendência que deu força ao “quiet quitting”, e que surgiu também durante a pandemia, foi o “quiet tok”. Jovens filmam suas demissões (sendo voluntárias ou não) e postam nas redes sociais, principalmente no TikTok. A hashtag #quiettok foi tão disseminada que atingiu cerca de 40 milhões de visualizações!

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Simone Bortoletto da Cruz, coordenadora de carreiras da ESEG – Faculdade do Grupo Etapa, explica possíveis causas dessa tendência. “Os jovens da geração Z são totalmente integrados ao digital e usam as redes sociais para expressarem seu cotidiano (como insatisfações, sentimentos, conquistas, etc.). Acredito que essa relação com o digital proporciona o conforto para expor, inclusive, a relação com o trabalho”, avalia.

Para ela, o que mudou não foi a frustração diante de certas situações no emprego – que sem dúvidas acompanha gerações – mas sim a propagação em massa desse desconforto nas redes sociais.

E Cruz faz um alerta: Os jovens que aderiram ao #quittok devem prestar atenção aos impactos de suas produções e se a forma de ‘desabafo’ foi adequada para sua imagem profissional. Como será a busca por trabalho daqui para a frente? As carreiras são longas, o que significa que terá de lidar com empresas, líderes e colegas de trabalho muito diferentes entre si. Uma coisa é certa: os desafios serão grandes.

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