Karoline Soares Teixeira, 20 anos, é uma dos quatro candidatos que garantiram a nota máxima na redação do Enem 2023 no estado do Ceará. A jovem, que é natural da cidade de Ji-Paraná, interior de Rondônia, mora há três anos na capital cearense. Se mudou para Fortaleza justamente na busca por uma melhor preparação para o vestibular, já que sonha em cursar Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC). E, para alcançar esse sonho, não está medindo esforços – topou até ler em juridiquês!
Na redação do Enem 2023, Karol provou ter um repertório diversificado ao citar uma comédia romântica, importantes períodos históricos brasileiros e até a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Ao GUIA DO ESTUDANTE, a jovem revelou todos os segredos e sua fórmula – nada mágica – para alcançar a nota mil.
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Montanha-russa de notas
Salvo raras exceções, garantir nota mil na redação do Enem não é um feito que acontece do dia para a noite. Para a maior parte dos candidatos, o ‘notão’ acontece após um ano (ou mais) de treinamento intenso. A trajetória de Karol não foge dessa realidade. A estudante realiza a prova do Enem desde 2021, e por mais que já tenha obtido uma nota exemplar na primeira vez que prestou o exame, precisou traçar um plano estratégico para manter a curva da nota crescente.
Isto porque em seu primeiro Enem, ainda no terceiro ano do Ensino Médio, a candidata conquistou 960 pontos. Mas, no ano seguinte – o seu primeiro matriculada em um cursinho preparatório – viu sua nota recuar para 940. “Foi uma frustração”, relembra. “Eu sempre gostei de escrever, e, querendo ou não, quando você começa a se preparar para o vestibular, você cria uma expectativa e eu dei meu máximo para chegar no mil naquele ano”.
Perder vinte pontos decepcionou Karol, mas fez com que entrasse no segundo de ano de cursinho com ainda mais foco.
“Em 2023, eu me dediquei ainda mais à redação porque também teve a mudança na banca avaliadora do Enem”, diz a candidata em referência à troca da banca pela Cebraspe. “Os professores nos orientaram dizendo que deveríamos mudar algumas estratégias de estudo, com isso apliquei o que eles diziam aos textos semanais que escrevia.”
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Repertório vasto
Quando o grande momento chegou, Karol confessa que se sentiu insegura com o tema proposto. “‘Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil’ foi uma proposta muito extensa, com muitas palavras. Quando li primeira vez, senti que não tinha entendido nada”, relembra a estudante. O medo a paralisou por um momento: foi preciso concentração e uma verdadeira caça na memória para coletar informações que já havia visto sobre e a temática.
“Fui analisando quais eram as palavras-chave da frase temática, sobre qual recorte eu deveria escrever”, diz. “A partir daí minha mente foi clareando”. Sua metodologia consistiu em começar o texto a partir de um “esqueleto”. Diferentemente de um rascunho, se trata somente de uma esquematização do que seria escrito em cada parágrafo da dissertação. Ali, a estudante foi adicionando quais argumentos e repertórios usaria, ao mesmo tempo que coletava na mente as informações que conhecia sobre o tema. “Com isso, os meus pensamentos foram se organizando e eu fui trabalhando até que a primeira parte do texto veio”.
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Os repertórios de Karol foram diversificados: trouxe um filme, alguns fatos históricos e até mesmo uma legislação brasileira muito conhecida. Não citou pensadores ou frases previamente decoradas. Logo na primeira linha do texto, o filme “Não sei como ela consegue” (2011), uma comédia romântica sobre uma mulher que equilibra a vida profissional com a pessoal, dá o tom do texto. Nos parágrafos de desenvolvimento, enriquece a discussão ao trazer características dos períodos da República Velha e do Coronelismo. Em ambos, fica em evidência o papel de subordinação no qual a mulher foi submetida na sociedade brasileira.
Mas foi ao trazer aspectos da legislação brasileira que a candidata comprovou que tem domínio do assunto. Ainda nos parágrafos de desenvolvimento, abordou a conquista da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) como um marco para a cidadania brasileira, mas sublinha a ausência de um aparato federal que reconheça o trabalho de cuidado exercido por donas de casa. Karol explica que conhecer mais sobre as leis brasileiras foi uma estratégia adotada durante a preparação para o vestibular.
“Durante o meu ano de estudos, dei preferência a ter como repertórios coringas documentos oficiais e legislações conhecidas. Acredito que as chances de eu confundir ou esquecer eram bem menores do que com uma citação decorada, por exemplo. Portanto, me familiarizei com Constituição Federal, a Declaração dos Direitos Humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Base Nacional Curricular Comum, o Plano Nacional da Educação, entre outros.”
A estudante explica que associava alguns documentos a determinados eixos temáticos comumente cobrados no exame. “Para o eixo do meio ambiente, por exemplo, eu tinha o Plano Nacional dos Resíduos Sólidos; para o eixo de cidadania, a Constituição Federal… então, de certa forma, eu fui criando um jeito próprio de aplicar esses repertórios coringas, independentemente do tema que fosse”.
Rotina de estudos apertada
A rotina de estudos no segundo ano de cursinho não foi fácil. Karoline acordava 5h30 da manhã para conseguir chegar a tempo no curso. “Morar em uma cidade grande tem seu preço quando se trata de logística”, desabafa. As aulas no curso do Colégio Ari de Sá, parceiro do SAS Educação, começavam pontualmente às 7h10 e iam até 12h50. Se engana, porém, quem pensa que após as aulas a jovem ia para a casa descansar. Passava a tarde na biblioteca do curso, em um verdadeiro segundo turno de estudos.
Era neste período que reforçava tudo que via em aula. Aprofundava os conteúdos vistos durante a semana, treinava com exercícios, e fazia questões de provas e exames antigos. No quesito redação, chegou a desenvolver um esquema próprio para otimizar os estudos: assim que o professor, durante as duas aulas semanais de texto, dava o tema da semana, já marcava um horário com um corretor.
“Eu sabia que até a data com o laboratório de redação chegar, eu teria que escrever a redação. Com isso, já criava um senso de comprometimento com esse calendário”, diz. “Assim, eu sabia que teria sempre uma redação para escrever por semana. Foram pouquíssimas as semanas que não escrevi ao menos um texto.”
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O terceiro ano de cursinho
Mesmo com todo o esforço, a aprovação na sonhada faculdade de Medicina não veio. Para garantir sua vaga dos sonhos, a jovem precisa enfrentar um obstáculo bem conhecido pelos estudantes que buscam a Universidade Federal do Ceará (UFC): o peso um. O termo diz respeito à maneira como a nota média final no Enem é calculada. Para a universidade, todas as provas têm o mesmo peso. Ou seja, ainda que tire 1000 na redação, uma nota 580 em Ciências da Natureza, por exemplo, terá a mesma influência na média final.
É diferente de outras universidades que dão peso dois ou três para redação ou disciplinas correlatas ao curso escolhido. A jovem, no entanto, segue confiante.
“Desde que decidi fazer Medicina, sei que se trata de um curso muito concorrido”, diz. “Não tenho médicos na família, mas sempre me interessei pela área da saúde e pelo cuidado com o paciente. E conforme crescia, esse desejo só se tornou mais forte”. Karol afirma que não vai desistir e combina que voltará a falar com o GUIA DO ESTUDANTE quando tirar sua segunda nota mil na redação do Enem.
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