Sua mãe não deixa você ir a um show de rock? Ela acha que é perda de tempo? Até mesmo você acha melhor ficar em casa e passar mais algumas horas com a cara na apostila? Então é melhor dar uma olhada no Green Day, que se apresenta hoje (20) em São Paulo.
Os caras, punks surgidos no final dos anos 1980 nos EUA, podem ter começado a carreira com letras mais desencanadas e feito muito roqueiro bater cabeça por aí sem pensar nos problemas do mundo. Só que, com o tempo, eles não deixaram por menos quando a coisa complicou nos Estados Unidos, durante o governo de George W. Bush. Era a hora de inserir críticas políticas e sociais em suas músicas.
Então se você quer dar uma relaxada nas matérias do colégio, mas ao mesmo tempo estudar atualidades para o vestibular, Green Day é uma boa pedida. Guerra do Iraque e governo Bush estão nas letras da banda – e com certeza estarão em questões do vestibular!
Americano idiota
O sétimo álbum da banda, American Idiot, é o melhor exemplo dessa fase politizada do Green Day. Lançado em 2004 como uma ópera rock (em que todas as músicas do álbum estão ligadas e contam uma história completa), o álbum traz críticas claras à sociedade americana e à política de Bush.
Naquele ano, George W. Bush seria reeleito e os EUA já estavam metidos em duas guerras: a do Afeganistão, desde 2001, depois dos atentados terroristas de 11 de setembro; e a do Iraque, desde 2003.
Em um dos vários sucessos do álbum, American Idiot (idiota americano), o trio, composto por Billie Joe, Mike Dirnt e Tré Cool, não escondeu sua posição anti-Bush, criticando a propaganda e imprensa pró-presidente e os “caipiras” (Bush e seus aliados):
Don’t wanna be an American idiot
Don’t want a nation under the new midia
Não quero ser um idiota americano
Não quero uma nação sob a nova mídia
Em outro trecho:
Welcome to a new kind of tension
All across the alienation
Where everything isn’t meant to be ok
Television dreams of tomorrow
We’re not the ones meant to follow
For that’s enough to argue
Bem-vindo a um novo tipo de tensão
Baseado na alienação
Onde tudo não é feito para estar ok
Os sonhos criados pela televisão
Os quais não somos obrigados a seguir
Já nos dão razão suficiente para argumentar
Em outra canção do álbum, Holiday (Feriado) a crítica é ainda mais ácida:
Zieg Heil to the president Gasman
Bombs away is your punishment
Pulverize the Eiffel towers
Who criticize your government
Bang bang goes the broken glass
Kill all the fags that don’t agree
Trials by fire, setting fire
Is not a way that’s meant for me
Just cause…(hey, hey) Just cause, because we’re outlaws yeah!
Zieg Heil ao presidente Gasman
Bombas lançadas é sua punição
Pulverizar as torres Eiffel
De quem critica seu governo
Bang bang, o vidro se quebra
Mate todos os gays que não concordarem
Julgado pelo fogo, incendiando
Não era o que eu queria para mim
Apenas porque, apenas porque, porque somos foras-da-lei!
A música é uma crítica à Guerra do Iraque, país do Oriente Médio que Bush invadiu para derrubar o governo do ditador de Saddam Hussein e achar armas de destruição em massa, com o apoio do Reino Unido e sem a aprovação da Organização das Nações Unidas (ONU).
No fim das contas Saddam foi preso e, mais tarde, condenado e enforcado, mas nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada. Ao falar “Pulverize as torres Eiffel de quem critica seu governo”, a banda se refere à França, que recusou apoio à invasão.
Billie Joe até disse em um show: “A próxima canção é um grande ‘vá se fod*%$’ para todos os políticos. Ela se chama ‘Holiday’. Essa canção não é anti-americana, é anti-guerra!”.
A ironia é clara também no uso da expressão Zieg heil, referência a uma forma alternativa da saudação nazista Heil Hitler.
Simulado – Globalização e Nova Ordem Mundial
Era Bush
Bush não fez por menos para receber tantas críticas do Green Day. Se em 2002 a aprovação dele era de 80% nos EUA, popularidade alavancada pela “guerra ao terror”, uma maneira que ele encontrou de “unir” os EUA em torno de uma causa (combater o terrorismo, a ameaça ao Ocidente), no começo de 2008 ela era de apenas 29%. Tal queda se explica pelos desastres econômicos e sociais durante seu mandato.
As duas guerras não só causaram perdas humanas como econômicas ao país: com gastos militares ultrapassando os US$ 500 bilhões anuais, Bush propôs corte de gastos em 151 programas sociais.
Além disso, com exceção de 2001, ele passou todo o seu mandato com o orçamento federal no vermelho. E viu um déficit na balança comercial (mais gastos com importações do que ganhos com exportações) durante toda sua gestão.
Defensores dos direitos humanos também não gostaram nem um pouco da “era Bush”. Foi aprovado, por exemplo, o Patriotic Act, lei que autorizava prender suspeitos de terrorismo por período indeterminado sem acusação formal.
21st Century Breakdown
O nono álbum do Green Day, lançado em 2009, já não tinha mais Bush na Casa Branca para criticar, mas Barack Obama, do Partido Democrata, eleito em 2008.
Obama mudou muito o estilo norte-americano de governar em relação ao seu antecessor, principalmente nas relações internacionais. De caráter mais negociador, chegou ao poder prometendo por fim às guerras do Afeganistão e Iraque.
Esforços estão sendo feitos no Afeganistão, mas Obama manterá entre 35 e 50 mil soldados pelo menos até 2011 no Iraque. Mudanças à parte, a banda não deixou de lado as críticas à sociedade americana.
Em East Jesus Nowhere (Jesus do Leste de Lugar Nenhum), por exemplo, eles falam:
Put your faith in a miracle
And it’s non-denominational
Join the choir we will be singing
In the church of wishful thinking
Depositem sua fé em um milagre
E isso não tem a ver com religião
Juntem-se ao coro, vamos cantar
Na igreja da doce ilusão
Também:
Don’t test me
Second guess me
Protest me
You will disappear
Não me testem
Não me contestem
Não me protestem
Vocês irão desaparecer
A música é uma crítica ao fundamentalismo religioso nos EUA. Muito se fala do fundamentalismo islâmico, com o Islã sendo visto como inimigo no Ocidente. Mas o Green Day põe o dedo na ferida e mostra que os EUA já têm a sua cota de fanáticos com a qual se preocupar.
Em uma pesquisa do Instituto Pew Research constatou-se que 18% dos americanos acham que Obama é muçulmano. O motivo? Pelo fato de “Barack” e “Obama” serem nomes nada “americanizados”, mas principalmente pelo segundo nome dele ser “Hussein”, Além disso, pelo fato de o pai de Obama ter sido praticante do Islã.
Um exemplo recente de fanatismo: o pastor evangélico Terry Jones, da Flórida, queria queimar o Corão (livro sagrado do Islã) no último dia 11 de setembro, aniversário dos atentados terroristas de 2001. Acabou desistindo da ideia, mas causou problemas na relação já fragilizada dos EUA com países islâmicos.
A lista de músicas politizadas e boas para refletir sobre assuntos atuais poderia se estender muito mais, mas ficamos por aqui! Agora é escutar muito Green Day. E estudar história e geografia também, claro!
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