Se entrar na faculdade já é uma grande mudança, fazer isso morando em outra cidade e sem conhecer ninguém é um desafio ainda maior. “Os novos alunos estão agora diante de outras solicitações: ampliar horizontes, superar limites, desenvolver seu potencial, constituir sua identidade pessoal e profissional, conquistar sua autonomia”, explica Ana Cristina Muller, da equipe do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (Sappe) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Esses são desafios que se estendem pela vida inteira e podem gerar alguns conflitos. Mas o que pode ajudar os recém-chegados a se adaptar?
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Medo da decepção
“Acredito que a pior parte na mudança pra cá foi o receio de chegar aqui e sofrer algum tipo de frustração – seja com a faculdade, com o curso, ou com o pessoal”, conta Carlos Eduardo Baldini, de 23 anos, que saiu da Grande São Paulo para estudar na Unesp de Jaboticabal. É natural sentir algum medo e ansiedade nessa situação.
“Toda mudança implica em se desfazer de laços, redes sociais e espaços em que a pessoa normalmente circula e se reconhece”, afirma Sylvia Dantas, coordenadora do serviço de orientação intercultural do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Não se deve ter medo de procurar os veteranos e pedir ajuda. “Eles dão dicas na hora da matrícula, levam para conhecer os lugares e explicam tudo o que é necessário saber num primeiro momento. Só depois de um mês você faz sua mudança de fato”, diz Carlos.
Amigos diminuem o estresse
Conhecer outras pessoas na mesma situação para compartilhar temores e angústias também ajuda. “O importante é evitar o isolamento – ele pode atrapalhar o período de adaptação, tornando-o muito mais longo e sofrido do que o necessário. As trocas de opiniões, dicas, com os colegas e os veteranos, podem tornar esse momento de adaptação mais leve, menos estressante”, explica Ana Cristina.
A pessoa precisa aprender a estar bem consigo mesma e não se afligir em ficar sozinha enquanto não se enturmar, de acordo com Sylvia. Além disso, é fundamental estar aberto para assimilar novas formas de convívio e de hábitos diários e não ficar muito preso ao que estava acostumado antes.
“Sentir saudades é natural e bom, porque significa que a pessoa cultiva bons laços. Mas saudade muito forte pode indicar dificuldade de estar sozinho”, diz Sylvia. Segundo ela, é importante que se mantenha contato com a família e os amigos que ficaram, contanto que isso não o impeça de enfrentar os desafios e problemas da nova situação. Mas cada um tem seu ritmo e é preciso respeitá-lo. “Para alguns pode ser necessário voltar para casa todo final de semana no início, enquanto outros não sentem essa necessidade”.
Informe-se sobre sua futura cidade
Antes de tomar a decisão de prestar vestibular em outra cidade, vale a pena fazer uma auto-avaliação para descobrir se você está mesmo pronto e se tem expectativas realísticas.
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Uma boa é ir conhecer a cidade e a instituição um pouco antes, para sentir como é. Pela internet também dá para obter várias informações através do pessoal que já está na cidade fazendo o curso que você está pensando em fazer”, aconselha Carlos.
Mas no geral, a experiência acrescenta muito. Pedro Ivo Garcia, que saiu de São Paulo para estudar na Unicamp, diz que pôde se conhecer melhor e amadurecer. “Eu mudei muito depois dessa experiência. A distância da família, a necessidade de se administrar financeiramente, ainda que sustentado pelos pais, a disciplina pessoal frente à liberdade que te é oferecida nessas situações acrescentam muito, principalmente no seu currículo pessoal”.
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