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EaD: os avanços e desafios dos cursos nessa modalidade

A educação a distância tenta superar a desconfiança e atrai cada vez mais universitários no Brasil

Por da redação
Atualizado em 12 jan 2018, 17h55 - Publicado em 10 jan 2018, 10h48

Durante muitos anos, a Educação a Distância (EAD) foi vista como uma modalidade de ensino de baixa qualidade. Quando se tratava de obter um diploma de Ensino Superior então, a desconfiança era geral. Afinal, a educação tradicional, marcada pela presença física do professor e a interação diária entre os alunos, sempre se impôs como o modelo ideal de aprendizagem, principalmente quando comparada a uma forma de ensino na qual o estudante não precisa frequentar regularmente uma faculdade.

Mas desde as primeiras experiências de EAD, no início dos anos 2000, muita coisa mudou, e a modalidade já atrai milhares de estudantes interessados em obter um diploma de Ensino Superior. Segundo o último Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), entre 2006 e 2016, o número de matrículas nas graduações a distância saltou de 207,2 mil para 1,5 milhão – número que representa 18,6% do total de matrículas. E dos quase 3 milhões de novos alunos que chegaram ao Ensino Superior em 2016, 28,2% escolheram um curso a distância.

Flexibilidade e preço

Entre os diversos aspectos que vêm fomentando a EAD no Brasil, alguns fatores se destacam. O mais evidente é o geográfico: em um país de dimensões continentais e enorme carência educacional, a EAD consegue alcançar cidades afastadas dos grandes centros urbanos, garantindo acesso ao Ensino Superior a estudantes que não teriam condições de obter um diploma de outra forma.

Mas a modalidade não se limitava a oferecer educação a estudantes de pequenas cidades do interior, onde não existiam faculdades. Com o tempo, a EAD também passou a atrair estudantes das regiões metropolitanas. Seja para economizar tempo no deslocamento caótico pelo trânsito das grandes cidades, seja para poder estudar a qualquer horário e no lugar que preferir, a EAD vem conquistando a adesão de universitários interessados na flexibilidade que a modalidade proporciona.

Isso sem falar no aspecto financeiro, que pesa bastante em tempos de crise. Com os cortes nas verbas para o financiamento estudantil, a graduação a distância surge como uma opção que cabe no bolso de quem almeja um diploma de Ensino Superior. A mensalidade de um curso a distância chega a ser de 20% a 75% mais barata que uma graduação presencial.

Tecnologia pedagógica

Mas a EAD só se consolidou como uma modalidade de ensino atraente devido ao avanço tecnológico registrado nos últimos 10 anos. A popularização de tablets e smartphones, paralelamente à revolução da internet e à disseminação
da banda larga, aproximou a tecnologia do cotidiano das pessoas. Se elas usam o celular para acessar informações, trocar mensagens e interagir socialmente no dia a dia, é natural que tenham maior confiança na utilização dessas ferramentas no processo educacional.

Ao incorporarem aos métodos pedagógicos uma gama de recursos digitais que facilitam o acesso à informação e estabelecem formas eficientes de comunicação remota, as universidades conseguiram dar um salto de qualidade no ensino. “No começo da EAD, a aprendizagem era mais linear, e as escolas apenas transmitiam o conteúdo. Hoje há um conjunto de recursos tecnológicos que permite uma interação maior entre alunos e professores, favorecendo a troca de conhecimento”, explica Janes Fidélis Tomelin, conselheiro da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e diretor executivo da Unicesumar.

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Com a constante evolução das tecnologias de informação e comunicação, as instituições de Ensino Superior que oferecem a modalidade a distância precisam estar sempre atentas às melhores práticas educacionais. Segundo José Moran, professor aposentado da USP e consultor em inovação educacional, as universidades podem aproveitar ainda mais o potencial da EAD para dinamizar as formas de ensino. “Não basta focar apenas no conteúdo, com vídeos, quizzes e consulta de materiais. A EAD favorece um modelo mais focado na experimentação e no desenvolvimento de projetos. Isso já é aplicado, mas poderia ser mais bem explorado”, ressalta.

Ampliação da oferta

Apesar da expansão vertiginosa da EAD nos últimos anos, ainda há espaço para que o segmento cresça bem mais. Atendendo a antigas reivindicações das instituições, o MEC editou em junho uma nova normativa para a regula-
mentação dos cursos a distância no país. De modo geral, as novas regras retiram antigas restrições que limitavam a abertura de novos cursos a distância.

Com essa decisão, o MEC pretende desburocratizar o processo de abertura de cursos e expandir a oferta de graduações a distância. “Atualmente, apenas 10% das instituições de Ensino Superior oferecem o ensino a distância, a grande maioria delas concentrada em quatro estados: Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo”, observa Henrique Sartori, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC.

A flexibilização nas regras para a abertura de cursos de EAD e polos (o espaço físico onde os alunos assistem a algumas aulas, realizam atividades práticas e são avaliados) já começa a movimentar as instituições que atuam no setor. A Kroton, que controla a Universidade Norte do Paraná (Unopar) e a Universidade Anhanguera e possui mais de 516 mil alunos e 910 polos em todos os estados brasileiros, pretende inaugurar 200 polos até o fim de 2017 e outros 200 em 2018. Segundo Roberto Valério, vice-presidente de graduação EAD e polos da empresa, há uma demanda reprimida no setor, que pode ser compensada com a nova regulamentação. “Sempre que abrimos polos em cidades onde não atuávamos ou um curso a distância como o de Enfermagem, a procura é muito alta”, explica.

O desafio da qualidade

A nova regulamentação do MEC mobiliza as instituições que atuam no setor a encarar o desafio de ampliar a oferta e garantir a qualidade do ensino. “No passado, a imprudência de algumas instituições, que foram muito agressivas na oferta de cursos e pouco preocupadas com a qualidade, acabou maculando a imagem da EAD no Brasil”, conta Tomelin, da Abed. Afnal, de pouco adianta oferecer comodidade e preços baixos ao aluno se ele não tiver uma formação adequada às exigências do mercado. “Não é só o preço que mantém o estudante matriculado, é a percepção concreta de aprendizagem”, aponta Tomelin.

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O conselheiro da Abed acredita que a nova regulamentação do MEC para ampliar a oferta de cursos aumentará a concorrência entre as instituições, o que deve ter efeitos positivos na qualidade da EAD no país. A expansão da EAD levará os alunos a avaliar o investimento e a comparar preços e qualidade, forçando o mercado a se autorregular. “As escolas deverão investir em tecnologia e profissionais qualificados, além de melhorar o relacionamento com o estudante para atender às suas exigências.”

Por outro lado, é preciso considerar também os riscos envolvidos no processo de expansão da EAD. Embora a demora na autorização de abertura de cursos e polos refletisse uma excessiva burocratização no credenciamento, havia a necessidade de estabelecer critérios rigorosos para permitir o funcionamento das graduações a distância.

Como agora as restrições para a abertura de novos cursos são menores e o custo de implementação de uma graduação a distância é inferior ao do modo presencial, algumas instituições podem aproveitar o promissor mercado da EAD com o interesse exclusivo de obter lucro, sem focar na qualidade. “Esse perigo é real: alguns grupos ofertam a EAD de forma simplista, apenas fornecendo o certificado. Eles são mais focados no marketing do que no processo de aprendizagem”, alerta o professor José Moran.

O MEC garante possuir instrumentos para avaliar a qualidade e fiscalizar as condições dos cursos. “As graduações de EAD passam pela mesma aferição de qualidade dos cursos presenciais, com monitoramento constante”, conta Sartori, secretário do MEC. Assim como também ocorre nas graduações presenciais, há instituições com reputação e qualidade consolidadas e outras que estão aquém de oferecer um ensino satisfatório. Por isso, na hora de escolher o curso e a instituição de EAD, Sartori recomenda conferir os indicadores de qualidade que o MEC disponibiliza no portal e-MEC.

Diante do atual panorama, uma constatação fica evidente: a EAD veio para ficar. A ampliação da oferta de graduações a distância acompanha o interesse cada vez maior dos estudantes em aproveitar a tecnologia para obter uma formação universitária. Além das questões de comodidade e preço, passando, evidentemente, pela qualidade do curso, a opção pelo ensino a distância vai depender dos seus objetivos de formação acadêmica e planejamento da carreira. E também se você tem o perfil adequado para estudar sem ir à faculdade todos os dias. Nas próximas reportagens você conhecerá os diferentes critérios para balizar a sua escolha e saber se a EAD atende ao seu projeto profissional.

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A nova regulamentação do MEC para graduações a distância

Publicada em junho deste ano, a nova portaria do Ministério da Educação (MEC) que regulamenta os cursos a distância no Brasil promete agilizar o credenciamento para o funcionamento de graduações nessa modalidade e ampliar a oferta de EAD no país. Pelas regras anteriores, se uma instituição quisesse oferecer um curso superior a distância, ela deveria estar credenciada para ofertar os cursos presenciais. Agora, essa obrigatoriedade não é mais necessária: as instituições poderão oferecer exclusivamente cursos EAD, na graduação e na pós.

A nova regulamentação também retira a necessidade de autorização prévia do MEC para a abertura de novos polos de apoio presencial. A expansão dos polos, contudo, dependerá do desempenho da escola no Conceito Institucional (CI), indicador de qualidade do MEC cuja escala varia de 1 a 5. Só poderão expandir os polos instituições com CI igual ou superior a 3 – quanto maior a nota, mais polos a escola está autorizada a abrir. “Em geral, as instituições que possuem CI mais altos também atuam na modalidade a distância, o que é um bom indício de que a qualidade será mantida”, explica Henrique Sartori, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC.

Por fim, as novas regras autorizam a criação de cursos 100% virtuais. Até então, as escolas eram obrigadas a oferecer algumas atividades práticas nos polos. Com isso, o aluno agora pode tirar o diploma sem precisar frequentar a faculdade uma única vez. Mas a permissão para ofertar graduações 100% virtuais ainda depende de regulamentação final do MEC e das Diretrizes Curriculares Nacionais de cada curso – graduações de Engenharia ou Enfermagem, por exemplo, não abdicarão das atividades práticas.

Tire as dúvidas

Respostas para algumas das perguntas mais frequentes sobre educação a distância

1. O que é educação a distância?
É a modalidade de ensino na qual o processo de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias da informação e da comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

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2. O que é educação semipresencial?
É um termo que algumas escolas utilizam para cursos a distância que têm uma carga maior de atividades presenciais nos polos de apoio. (o Guia do Estudante EaD trata todos os semipresenciais como cursos em EaD).

3. Os cursos a distância são mais fáceis do que os cursos presenciais?
Não. Os especialistas são unânimes: um curso online pode exigir até mais do aluno, principalmente em disciplina e determinação. O estudante também tem de aprender a buscar informações, com critério, e identificar seus pontos fracos.

4. Os professores não ficam distantes demais dos alunos?
Para compensar a ausência física do professor, há tutores que ficam à disposição em chats, fóruns e aulas ao vivo, por streaming. Dependendo do curso, há contatos presenciais periódicos, nos polos onde são desenvolvidas as atividades práticas.

5. O diploma é diferente daquele do curso presencial?
Não. No diploma consta apenas que você se formou no bacharelado, na licenciatura ou numa graduação tecnológica. Não há nada escrito sobre a modalidade de ensino, se presencial ou EaD.

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