Os dias pós-resultado do Enem são um misto de amor e ódio para muitos estudantes. Para aqueles que conseguiram uma boa nota, basta esperar a abertura das inscrições do Sisu e do ProUni. Já para os candidatos que ficaram com médias baixas, a história é outra. Os sentimentos de fracasso e de tristeza podem tomar conta de muita gente nessa hora. Mas, nem tudo está perdido. Saber aproveitar esse momento é essencial para quem vai continuar em busca de uma vaga na universidade.
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Não existe um culpado pelo mal desempenho, segundo os especialistas entrevistados pelo GUIA. Existem variáveis que influenciam o modo como a pessoa vai no Enem e que não estão sob o controle do estudante: uma prova que eventualmente foi mais difícil do que as de outros anos, brigas presenciadas no dia anterior, ônibus que atrasam e que causam agitação antes do começo da prova… A lista de eventos é praticamente infinita.
Pablo Santos, doutor em Educação e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) enumera ainda três pontos que devem ser considerados pelos candidatos e por suas famílias na hora de lidar com o baixo desempenho: “Em primeiro lugar, a educação pública, no que diz respeito a sua infraestrutura, à qualificação de professores e aos currículos escolares muitas vezes é insatisfatória. Em segundo lugar, os estudantes costumam ter altas expectativas com relação à passagem para a vida adulta e à entrada no ensino superior, o que gera uma tensão adicional. E, por fim, temos uma população com pouca prática de leitura, essencial para o Enem”, avalia o educador.
As lições do fracasso
Pode parecer clichê, mas é preciso entender que não se aprende só com os acertos, mas também com os erros. “O erro pode nos mostrar o que devemos fazer para atingir nosso objetivo”, diz Santos. Para o educador, essa é a oportunidade ideal de parar e refletir sobre o que pode ser feito para melhorar. Se a dedicação aos estudos durante o ano foi pouca ou quase nenhuma, é hora de repensar essa atitude e isso é algo que depende muito mais da força de vontade do estudante. “É importante ter em mente as responsabilidades que são da própria pessoa e que, portanto, podem ser controladas”, aconselha Julio Peres, psicólogo clínico.
Muitas vezes, tirar uma boa nota no Enem não é só questão de querer. O exame se baseia em uma lógica de ganha-perde, como explica Peres: “Para que um estudante consiga a vaga, outros precisam perdê-la. O aluno deve ter a consciência de que esse modelo de avaliação não representa o seu real valor intelectual e a sua identidade”. Por isso, recomenda-se uma boa dose de paciência, não muito comum nos adolescentes. “Desconstruir o conceito de urgência, comum nos mais jovens, é ideal. É uma dimensão subjetiva, não é cronológica”, explica o psicólogo.
Além disso, entrar mais velho na universidade também pode levar ao aumento da experiência e à maturidade. “Ser aprovado com mais de 18 anos na universidade não é um pesadelo. Quem passou mais tempo estudante tem uma experiência de vida que compensa a imaturidade daquele estudante que entrou com 16, 17 anos”, acredita Santos.
Lidando com os pais
Aceitar que vai ser preciso entrar mais velho na faculdade talvez nem seja a parte mais difícil. Dar a notícia para a família pode ser uma pode ser bem pior. Uma coisa é certa, a maioria não fica feliz com a novidade e é importante estar preparado para isso. “Se os pais acompanharam seus filhos ao longo da preparação, é bem provável que não precisará de uma explicação, mas caso precise, o melhor é conversar e falar o que realmente aconteceu”, conta Fernando José, psicólogo especialista em provas e concursos. O diálogo franco irá ajudar nesse momento de turbulência dentro de casa.
Vai ser mais simples de lidar com a situação se o estudante entender o lado dos pais também. Frequentemente, há limitações financeiras para prolongar os estudos dos filhos ou um desconhecimento sobre o quanto ele estudou (ou deixou de estudar) e o papel dos pais é cobrar. Uma dica dada pelo psicólogo Peres é fazer um acordo com a família. “Entre em consenso e conversem sobre o que o estudante poderá fazer para se empenhar em atingir resultados melhores”, defende. Isso fortalecerá a motivação para o novo ano de estudos.
O melhor caminho para recomeçar
Pode ser que agora seja difícil se imaginar pegando todos os livros novamente para estudar. É normal dar um desânimo nessas horas. "Certamente o aluno deve estar esgotado, o recomendado é se dar férias por um tempo para aliviar a cabeça", explica Fernando José. Julio Peres recomenda que o ritmo de decisões deva ser mais suave e as reflexões, mais aprofundadas. "Tente não se cobrar imediatamente após o resultado, o melhor é repensar quando você estiver mais tranquilo", diz.
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Depois de parar por um tempo para pensar no que será melhor para você, é hora de rever seus pontos fracos e refazer o seu planejamento para programar os estudos do novo ano. Para começar, pegue a prova do Enem e refaça-a. Como lembra o educador Pablo Santos, essa já é uma atividade recorrente em modalidades esportivas, como o futebol ou o basquete, em que os jogadores reveem a partida para identificar seus erros. "Do ponto de vista emocional, você enfrentará o medo de ver a prova, sem a cobrança de ter que acertar 100%", argumenta Santos.
Em vez de pensar “sou mto ruim, não consigo ler e escrever”, pense que esse é o momento de saber o que não foi bem trabalhado na educação básica. Liste suas principais dificuldades e programa seu tempo dando mais prioridade aos assuntos que não domina ainda, mas sem esquecer daqueles que você já gosta e tem preferência. Se você precisar de uma motivação a mais, pode seguir a dica do psicólogo Fernando José: "Retome os estudos pela matéria que mais gosta, pois desta forma haverá um estímulo para estudar".
Para finalizar, a dica talvez mais importante desse texto: LEIA. Leia tudo que encontrar pela frente, todos os gêneros que puder: quadrinhos, notícias, livros de literatura antiga, até manuais de instrução. O Enem não cobra a famosa "decoreba". Ele trabalha com competências que pedem que o estudante entenda o conteúdo e, para isso, é essencial trabalhar a interpretação de textos. Segundo Santos, há pesquisas que comprovam que muitas vezes os estudantes erram questões de matemática ou física por não compreenderem os enunciados. Leitura, portanto, é essencial.
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